quinta-feira, 27 de outubro de 2005

BREVE RESPOSTA A CESARINY



Em todos os locais te encontro
em todos os locais te perco
conheço tão mal o teu corpo
e sonhei tanto com a tua figura
que é de olhos abertos que eu ando
a observar a tua postura
e bebo o ar e sorvo o sonho
tanto tão perto tão irreal
que o meu corpo sofre a agrura
dum corpo que nunca foi meu
num rio que tarda em aparecer
num braço que não me procura

Em todos os locais te encontro
em todos os locais te perco
POETA PARA LER


Mário Cesariny poeta, romancista, dramaturgo e artista plástico nasceu em 1923 e é considerado um dos mais importantes representantes do surrealismo português. No início da sua carreira literária é influenciado por Cesário Verde e Álvaro de Campos. Porém ao integrar-se no Grupo Surrealista tráz para a sua obra o absurdo, o insólito e o inverosímel.


Poema


Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço também o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
BREVE RESPOSTA A SOPHIA


Por muito que a ausência
Seja profunda
Num país qualquer
Mesmo com nome
Os desertos
Têm sempre água
Todas as noites têm lua
Toda a terra do mundo
Não é nua


E por maior que seja
O desespero
Tudo na vida
Tem mais que um tempero
POESIA DE SOPHIA DE MELLO BREYNER

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua

quarta-feira, 26 de outubro de 2005

POESIA



A tertulia sempre acontece poesia da qual faço parte, propôs na última reunião, três temas para que cada um de nós fizesse três poemas. Assim, praias fluviais, o eléctrico amarelo e natureza morta eram os motes. Como não tive tempo e se calhar imaginação, recorri ao três em um, e fiz um poema apenas:


UMA NATUREZA MORTA NESSA PRAIA FLUVIAL QUE É O ELÉCTRICO CHAMADO DESEJO


Vinham das praias fluviais aos magotes
tisnados do sol alvoroçados pela juventude
apanhavam o eléctrico em Algés
saltando para os estribos com o amarelo
em andamento
entravam de sopetão forçavam a entrada
encostavam-se às moças
neste eléctrico chamado desejo
uma mão por cima outra por baixo
davam um apalpão roubavam um beijo
uns de trolei levantado
outros de natureza morta
e de vez em quando ouvia-se uma varina gritar:
- vê lá se te despachas
que tou a chegar à minha porta

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

AS RAZÕES PORQUE EU NÃO ME CANDIDATO



Porque não sou social-democrata nem socialista
nem comunista nem trotskista nem direitista
porque não sou salazarista nem republicano
nem rei nem barão
porque não sou sindicalista nem trabalhador operário
nem advogado nem economista
porque não governei ou desgovernei nem fui ministro
nem secretário
porque não pisei nada nem ninguém nem descolonizei
nem caucionei cees ccbs e outros quês
porque não fugi à tropa não fugi da tropa
não passeei em Paris nem em Argel
nunca fui refractário nem mandatário
nem sequer retardatário
porque nunca fiz presidências abertas nem descobertas
não viajei em cobertas
de navios ou paquetes ou iates
nunca tive hiatos nem mandatos e mesmo
muitos sapatos
porque não gosto de andar de avião
e muito menos de enchê-los de patrões galifões e outros
falcões
porque nunca comi à conta
porque à conta tive tudo muito pouco ou nada
e não nado na hipocrisia destes mares navegados por mareantes
tunantes e outros mandantes
porque não sei mentir
sair e voltar
porque na minha idade não posso trabalhar
nem passar à reforma nem reformar as reformas
nem ministros nem governos
e porque finalmente que país ia eu presidir?
PEQUENA FARPA AOS PETROGALESES E GALPEANOS
OU A PRISÃO QUE TEM AS PORTAS ABERTAS



Chove! Estou sentado em frente ao computador (não aquele computador de obrigação, de mapas, programas, listagens) mesmo ao lados dos meus livros ( não os códigos, os impostos , o iva) olhando os meus quadros, depois de uma manhã de trabalho no atelier, preparando a minha próxima exposição. Estou sentado, depois de um almoço, feito de ensopado de borrego, com uma sobremesa de gelado e um café. Tudo a só, tudo em liberdade, esta liberdade que me permite ser o que quero, fazer o que quero, percorrer os caminhos que me dão gozo, falar com quem quero, escolher as palavras, os amigos, de manhã, à tarde, à noite, sem ordens, sem chefes, sem obstruções. Esta liberdade que me permite pensar, escrever, pintar, sem que tenha que obedecer a regras ou alienar a minha vontade.
Chove, mas poderia estar sol ou a nevar e nada me impediria de ir à praia, ao cinema, caminhar nas ruas de Lisboa visitando exposições ou observando apenas o ar de quem apressadamente
tem que chegar a algum lado, de tempo marcado, de coração nas mãos dos outros.
Chove, estou em casa mas poderia estar algures, visitando velhos amigos, antigos colegas, bebendo um café, numa galpescritoria qualquer dizendo au revoir a qualquer momento, saindo depois sem destino certo, apanhando os ventos da liberdade conquistada a 31 de março de 2002. Tantas vezes me dizem que volto amiúde ao local do crime. Pois é, mas esses infelizmente estão lá todos os dias e estão presos e condenados. E agora até aos 65!
BREVE RESPOSTA A SOFIA


Por muito que a ausência
seja profunda
Num país qualquer
mesmo com nome
Os desertos
Têm sempre água
Todas as noite têm lua
Toda a terra do mundo
não é nua
E por maior que seja
O desespero
Tudo na vida
Tem mais que um tempero!

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

POSTES E POSTALETES


Estamos em Outubro mas já me cheira a natal. Caminho pela cidade nesta manhã cinzenta e chuvosa e esbarro com meia-dúzia de atarefados trabalhadores a esburacar os passeios e a plantar enormes postes para empoleirar depois os enfeites luminosos e coloridos.
De Outubro a Janeiro teremos por quase todas as cidades do nosso país centenas, senão milhares de postes plantados nos nossos passeios por entre os quais teremos de ziguezaguear.
Não são estes postes que estão em causa, porque são casuais, mas sim a invasão fixa de pinos pinotes e tabuletas que cravam nas nossas ruas. São os caixotes de lixo, são os vidrões, os papelões e as publicidades; são as proibições, são as facilitações e as demarcações; è o vira aqui, não vira acolá; são os postes de iluminação e os pinos para não estacionar. Então e os velhos ? e os invisuais? Somos é claro um país à beira poste plantado.

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

A GRIPE



Gripei no tempo! Não pelo frio que se arremessa ou pelas folhas que vão caindo, mas sim pelo rendilhado de palavras que diariamente nos lançam e perturbam. Vem aí a gripe das desgraças, das contaminações, das pandemias- dizem uns- é preciso matar, esfolar, vacinar, não tocar em aves, não comer aves, não esvoaçar com as aves. Outros, que não senhor, é preciso ter calma, a coisa não se pega para humanos, só quem lida com os animais é que deve ter cuidados. Então encomendamos milhões de vacinas. Então somos milhões a lidar com galináceos.
Vem aí a gripe nos vôos migratórios das aves turistas que percorrem o mundo. E os nossos caçadores esperam por elas, escondidos nas moitas, agachados nas albufeiras e barragens prontos a disparar. Estou a ver depois da queda da caça, o caçador de máscara e luvas brancas a prender o animal, com muito cuidado junto ao fato especial que comprou para o efeito ou ainda mais refinado, ver o cão de máscara na boca, tipo preservativo, para poder abocanhar as aves sem perigo para a sua vida.
E as vacinas que não vacinam nada estão esgotadas e as outras que podem ou não ter efeito só as teremos no segundo semestre de 2006. E entramos agora no mundo dos ses. Se houver gripe se houver mutação, se houver aves, se houver humanos, se houver pandemia.
Haja pandemia ou não este país é um pandemónio.

terça-feira, 18 de outubro de 2005

ANOTAÇÕES


No centro de exposições do CCB, estão actualmente as seguintes exposições:

"4 visões sobre o espaço" - onde poderemos ver a arquitectura de Aires Mateus, o segundo espaço da alemã Sabine Horning, o project room de Sancho Silva e a pintura e escultura da brasileira Adriana Varejão.


"World press photo 2005" - fotografia do mundo

"Catalysts" - design de comunicação

"Colecção berardo - construir, desconstruir, habitar" - com alguns dos mais notáveis artistas plásticos portugueses

Já visitei e revesitei estas exposições e brevemente falarei sobre elas, aconselho entretanto uma visita ao CCB.

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

DESPORTO

A bola é apenas um elemento esférico que rola ao sabor de impulsos num rectângulo de paixões. Os jogadores, em grande maioria, assalariados de luxo, em relação a um País tão mal classificado nos diversos rankings desta Europa unida, são peças de um xadrez descontrolado ou melhor dizendo, um xadrez controlado por uma casta que vai de dirigentes a árbitros, de jornalistas a empresários. O futebol é uma paixão, azul, verde, encarnada ou de outra cor qualquer mas não pode ser um campo de batalha onde se dirimam interesses, ódios, regiões.
A bola, sendo um elemento que rola, não pode ser empurrada por inverdades, quartada por negligências ou desviada voluntariamente por vontades expressas.
Temos a bola que temos mas não temos o País que queríamos. Temos todos os dias desafios importantes que perdemos, quantos de nós, mal treinados técnica e fisicamente somos rasteirados e driblados pela vida e no entanto mordemos a relva por esta paixão que nos assola: A bola!
ANOTAÇÕES

Concurso de poesia integrado nas festas da cidade da Amadora

1º PRÉMIO

Gritei por ti

Gritei por ti quando o mar cantava
As canções do meu tormento
E as ondas os murmúrios e o vento
Eram bálsamo que me embalava

E cada noite sem luar cada madrugada
Cantadas em marés de pensamento
Eram a maresia a espuma o alento
Que chamavam por ti em voz calada

E para as trevas o mar me arrastava
Curando-me as feridas qual unguento
E eu gritei por ti implorei ao vento
E tu ignoraste o que o mar cantava

Júlio Mira 5 de Outubro de 2005
DIA PRIMEIRO

Este é um novo horizonte para mim, este mar que agora se abre na minha frente é um desafio de modernidade no qual vou mergulhar, zarpando no desconhecido, tentando descobrir novas gentes, novas culturas, conquistando aqui e além, uma palavra, um verso, uma poesia, lançando noutras terras a semente da arte, os padrões da literatura, a simplicidade do dia-a-dia.

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

bom dia