domingo, 29 de janeiro de 2006

BREVE RESPOSTA A AUGUSTO GIL

No dia em que nevou na Amadora


Batem leve, levemente
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
do casario do caminho.

Quem bate assim levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria,
Há quantos anos a não via!
e que saudades Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho.

Fico olhando esses sinais,
da gente alegre que passa
e noto, por entre os mais
os traços tão naturais
das crianças que a neve abraça.

E os risos floridos,
que a janela me deixa vê-los,
primeiro indefinidos,
depois, em sorrisos compridos,
porque não podiam contê-los.

Que quem a neve já viu,
não goze o momento, enfim!
Mas o sortilégio surgiu,
A criançada emergiu,
ficaram loucos assim!

E uma alegria arrebatadora,
uma profunda emoção,
entra em mim devastadora,
Cai neve n'Amadora
e cai no meu coração!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

EXPOSIÇÃO

ROSTOS OCULTOS


Vou começar o ano com uma exposição de pintura na Galeria Municipal de Fitares em Rio de Mouro. Com pena minha não é uma exposição individual, mas sim com outro pintor, Túlio Coelho, que não conheço, nem a sua obra. Nos tempos que correm não é fácil ter espaços para expôr, porque estes são poucos e os pintores, felizmente são muitos. Assim, os trabalhos que vou mostrar são apenas sete, embora de alguma dimensão, tendo o maior 100 x 150 cm. São apresentados trabalhos a acrílico e de técnica mista e ainda que sejam todos sem título eles representam os "rostos ocultos" que se misturam nos desígnios que a vida nos proporciona seja na crueldade da guerra ou nos tsounamis do quotidiano. Por isso, Bagdad, New Orleans, Afeganistão, Indonésia, Israel ou Palestina dão-nos rostos que ocultamos no emarenhado da cor e no abstracto das pinceladas. Ainda não é "aquela" exposição que eu tenho no pensamento, mas ainda assim, vale a pena visitar de Quarta-Feira a Domingo, de 21 de Janeiro a 12 de fevereiro, em Rio de Mouro, esta pequena mostra do meu trabalho.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

MISS SAIGÃO



A Rita teve a amabilidade de me oferecer bilhetes para um espectáculo no Coliseu dos Recreios. Um musical. Como sempre aceitei mas confesso que fui às cegas. Não tinha lido nada sobre a estreia, não sabia nada sobre o espectáculo. Mas suspeitei, relacionei a miss com Saigão, com o Vietname, com os américas, com a prostituição, com a guerra e seus apêndices. Não me enganei, só que pensei que o musical era americano, mas não, é sim made in London. Não li nenhuma critica, por isso estou à vontade para classificar, e como diria o João Pedro, "de 0 a 10 quanto dás?" Pois vamos pelos oito, que o espectáculo tem momentos brilhantes. De negativo apenas as condições que o Coliseu nos proporciona, que são más, desde o palco às cadeiras e a habitual "pontualidade" dos portugueses que chegam sempre tarde e a más horas apesar de os bilhetes alertarem que o musical começava às nove e meia da noite impereterivelmente. Um espectáculo a ver obrigatoriamente.
MEDALHA DE OURO

1º PRÉMIO:


Os portugueses são os mais desmoralizados e pessimistas num estudo realizado em doze países europeus.
O SENHOR ANÍBAL



Não me apetece politica. Não me apetece dislates, disparates e outros acicates. Nestas eleições raramente ouvi um discurso, um comicio, uma intervenção. Há outros valores para sentir a Pátria. Mas por acaso, numa manhã de viagem, ouvi a Antena um. Falava o senhor Aníbal, na insustentavel posição de Portugal, já que tínhamos bons trabalhadores, tínhamos bons cientistas, tínhamos boas empresas, tínhamos empresários empreendedores, enfim, tínhamos tudo para ser felizes. Só de um pequeno pormenor se esqueceu o senhor Aníbal: é que temos maus politicos e maus gestores!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2006

PENSAMENTO


"O amor é um combóio que nem sempre pára na estação que queremos"
O PAÍS DAS MARAVILHAS II




Ah este país das maravilhas
Do arroz de marisco
Dos pratos de lentilhas
Da bola
Da santola
Dos brancos e das minorias
País em risco
Dos impostos e das taxas
Dos que "pagas e nem pias"
Das tias
País alienado destruído
País sem campos
Nem pesca
País do desemprego
De reformados
De zés pagantes
De mal-amados
País sempre em festa
Dos futebóis
Dos ralis
Das otas
Dos têgêvês
Dos idiotas
País de mal-pagos
E fecundados
País apostólico
Católico
Sempre em missa
De mão estendida à moeda
Ao subsídio
À caridade
País de injustiça
De apitos dourados
De reformas douradas
De manias
E touradas
De casas Pias
País sem fronteiras
De brasucas
E chineses
De russos
De ucranianos
De negros
De ciganos
De maltezes e às vezes
País charneira
Entre o mar
E a Europa
Porta de droga
Janela de sida
Sala de chuto
Na vida
País dormente
Calado
Arrastado pelas palavras
Enganado
Das crianças sem verdade
Dos velhos sem pensões
Dos campos abandonados
Das cidades multidões
Da Europa distante
Ah meu país doente!
BOM ANO NOVO

O tempo das festas não deixou margem para a escrita, por uma razão ou outra não tive o tal tempo necessário para vir aqui deixar algumas palavras. Mas voltei e ainda a tempo e gosto de deixar um voto de BOM ANO A TODOS OS AMIGOS E LEITORES DESTE BLOG.