quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

POEMA TRINTA

As palavras que pensei e escrevi e disse
oscilam agora na balança do tempo pêndulo
em que tornámos a nossa liberdade
A transparência sonhada dilui-se em silêncios
e morre dentro da cidade
nos braços de um rio que tarda em ressuscitar
POEMA VINTE E NOVE




Era neste jardim que à beira mar plantávamos
as palavras agitadas que semearam o futuro
Mas os ventos as marés as ondas
foram cataventos que destruiram as mondas
e nos catapultaram para o obscuro
POEMA VINTE E OITO




Juntávamo-nos aos sábados de tarde ao rufar do tambor
aprendendo canções, fazendo jogos, no areal do campo da bola.
À noite na soleira da porta aprendíamos as artes do amor
contadas pelos mais velhos. E sob o olhar das estrelas
sonhávamos com as meninas donzelas
que nos entonteciam nos intervalos da escola.
POEMA VINTE E SETE




Tenho memória de mim de família de pátria
reminiscências dum passado breve
pintalgado em tons de escuro
Poema de palavras diluídas neste presente
agitado por outros versos nesta liberdade
que nos cauciona o futuro
ANDAM À SOLTA



Hoje, na vila de Azambuja, andaram dois tigres à solta. Fugiram da jaula, embrenharam-se nas quintas próximas, mas foram perseguidos por dezenas de agentes da autoridade, capturados e presos novamente nas suas celas. Neste país de fábulas, andam à solta uns quantos passarões, camuflados com as penas com que nos depenam, e voam livremente e impunemente soltando o seu piar: corrupto...corrupto...corrupto.

domingo, 27 de janeiro de 2008

POEMA VINTE E SEIS




Há duas realidades nas margens do Guadiana
numa, cresce um novo país, floresce o sonho
noutra, cultiva-se o desencanto
sobrevive um povo apático e tristonho.
POEMA VINTE E CINCO




Restaurámos os sonhos nesse mítico 1640
ano de glória, marco heróico e difícil parto
Hoje, pende sobre a nossa cabeça
esse espectro dum Filipe Quarto!

sábado, 26 de janeiro de 2008

ARTE



"A arte é um fenómeno de intimidade"

definição do pintor Fernando Lanhas num artigo do Jornal de Notícias

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

POEMA VINTE E QUATRO




Fui português aqui
Não sou português agora!
POEMA VINTE E TRÊS






Se eu por fome roubar um pão
e não pagar por não ter dinheiro
sou logo apelidado de ladrão
e vou direitinho p'ró galinheiro.

Mas se o administrador dum banco
perdoar dívidas de qualquer maneira
não é mais que um "espirito santo"
que fez uma operação financeira.

Podem até fazer muito melhor
estes nossos queridos manganões
poem o dinheiro em off-shore
e depois compram acções.

É assim neste país de iluminados
que acusa o zé povo de ladrão
torna os ladrões em ilibados
e não os manda para a prisão.
POEMA VINTE E DOIS




Já não somos fronteira.
Nem raia, nem mar param o caudal
que transvaza do pote da precaridade.
Somos as praias onde desembarcam
à descoberta de novos brasis
os descendentes de Cabral.
Mas não vieram os reis
nem o clero, nem os nobres
apenas chega a tropa fandanga
Sertão de pobres
baía de vulgaridade
E nós não sendo já fronteira
sonhamos com D.Pedro
e o seu grito do Ipiranga.
POEMA VINTE E UM




Para eliminar breve a perversa conjura
chamou-se um dia Sebastião José
vão longe os tempos mas a imagem perdura
nos dias que correm para não perdermos a fé.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

POEMA VINTE




Em meu redor há este enorme vazio
palco de um país que morreu em mim
não há sonho que inunde este rio
não há poema que floresça este jardim

sábado, 19 de janeiro de 2008

POEMA DEZANOVE




Portugal podia ser um poema
cantado à mesa duma grande sala
neste banquete dito Europa
Somos neste estratagema
que é esta enorme gala
uns meros servidores de copa.
POEMA DEZOITO



Que volte D. Afonso Henriques, D. Sancho,
D. Fernando ou D. Duarte...
Que em D.Dinis ou D.João estejamos a pensar...
Que recordemos D.Sebastião...
Tudo bem.
Mas por manha ou arte
Ter-mos Sócrates a fazer de Salazar
A salvar a Pátria Mãe
Não!
POEMA DEZASSETE



Durante anos fomos amantes, infiéis corpos em brando leito derramados
os teus rios eram lágrimas que escorriam pelas montanhas dos teus seios
bordejando as margens do teu corpo e desaguando no delta do teu ventre
Durante anos guardámos as palavras que ciciávamos ao teu ouvido
para que mais tarde pudéssemos engravidar o tempo
mas tu esqueceste-te das promessas envolvida que foste por essa serpente
que te enleou o corpo e da árvore te estendeu o pecado
Em brando leito somos sobressaltados pelo apodrecer da maçã

não somos mais amantes mitigamos a fome com pedaços de esperança
esperando firmes que os brandos ventos se diluam
e nasça em cada vontade a lança
que legitime o sonho do amanhã

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

SABIA QUE...




...O administrador português ganha em média, 32 vezes mais do que o trabalhador que gere?

...Belmiro de Azevedo ganha 48 vezes mais que um trabalhador da Sonae?

...Filipe Pinhal do BCP ganha 67 vezes mais que um colaborador do banco?

...Pedro Queiroz Pereira da Semapa ganha 219 vezes mais do que um funcionário da empresa que gere?

Em Espanha um administrador ganha 15 vezes mais e no Reino Unido apenas 14 vezes mais.

É fartar vilanagem!
SISTEMA DE ENSINO É FÁBRICA DE ANALFABETOS




D. António Marcelino: Quem ouve professores a falar com confiança, vê cansaço, desânimo, desilusão, desinteresse e com professores neste estado de alma, os melhores manuais pouco valem.

General Carlos Azevedo: infelizmente a nossa educação está arredia e ausente de algo fundamental, os miúdos saem da instrução primária sem saber falar português - o que é o sujeito, o predicado, o complemento directo.


Silva Resende: a escola tem-se tornado numa fábrica de ignorantes, porque os alunos não sabem o essencial.



Profª Maria do Carmo Vieira: quando é o próprio Ministério a propor a despenalização dos erros ortográficos e a substituir em provas de aferição, textos de qualidade literária por receitas culinárias, estamos perante a demissão da Escola.

MEDALHA DE OURO


Portugal, recordista europeu de salários de luxo!


POEMA DEZASSEIS




Que recordações tenho eu de antanho
Quando as bombas caíam e a fome grassava?
Eu era pequenino, o mundo tamanho
A minha guerra era outra, comia e calava.

Que recordações tenho eu da savana
Que destroçou a juventude desamparada?
Eu era menino de pensamento e gana
Não queria ser homem de voz calada.

Que recordações tenho eu de Abril
Maré tempestade de palavra gritada?
Eu era menino e já pressentia o ardil
Dessa liberdade de boca embargada.

Que recordações tenho eu da Europa
Comunidade não por mim alargada
E que quer gerir o meu destino?

Não quero ser moeda de troca
Não vivo mais de boca fechada
Sou homem, não sou mais menino!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

UM JORNAL DOS DIABOS




Perdi o hábito de comprar jornais. De vez em quando vejo os escaparates e leio os títulos de meia dúzia de periódicos. Confesso que não me seduzem. Não gosto que me atirem poeira para os olhos, pois sou muito atreito a conjuntivites. No entanto, um amigo, emprestou-me um jornal para eu ler UM artigo. Mas surpresa, li todos! Passo, por isso, a transcrever algumas tiradas, das crónicas que li.
"O estado está ao serviço de interesses e não ao serviço de valores" Prof. José Hermano Saraiva
"A decadência à portuguesa" Alberto João Jardim
"É preciso tratar da saúde ao senhor ministro" Gentil Martins,José Manuel Silva e Miguel Leão
" Plano tecnológico: entre o bluff e a propaganda" Ana Clara
"Aprovará Cavaco as borradas de Sócrates?" Alfredo Farinha
e entre outros artigos o comentário de vários analistas ao título " o país insatisfeito de Cavaco ou o país cor-de-rosa de Sócrates?"
Acho que vale a pena ler estes artigos que o Jornal "O Diabo" publica, embora reconhecendo que este jornal tinha um lado direitista, não sei se todos os autores o terão, mas que há lá verdades a relembrar, isso há.
POEMA QUINZE



MANIFESTO ANTI-S



Não gosto de ésses.Basta de ésses!
Abaixo os ésses, a dinastia dos ésses, a pluralidade dos ésses
dos de sá, que me lembra o pinto e o pinto que me lembra costa
e o mar que me salga, que destila sal, que vai à sala e
por azar também é sa, de sal, de Salazar
e do ar, que nos deu, inquinado ou não, conforme a opinião
ar de mar, de maresia, de opinar, de cortar o pensamento e degredar.
Não gosto de ésses
abaixo a monarquia dos ésses!
Abaixo os reis, abaixo o S de Sebastião, mas abaixo o nosso reizinho, não!
Abaixo o se de bastião, não gosto de bastiões, nem sequer envoltos em nevoeiro
que os ésses podem voltarem em manhãs de escuridão
mas às vezes, porque não, servir um certo abanão
à mesa dos comilões.
Não gosto do S de salmão, mas gosto de salmão, posso tirar-lhe o S e gritar p'rá cozinha:
sai um prato de almão, mas nós não temos almão
temos apenas alminha, tão débil, tão quebradiça
que nem a hóstea da missa, servida em taças de prata
nos equilibra a balança, e o mundo pula e avança como bola colorida
e não nos enche a pança, não nos sara a ferida
aberta por esses ses da nossa peregrinação.
Basta de ésses!
O ésse é de servil!
o ésse é de sorumbático!
o ésse é de salsada!
o ésse é de salafrário!
o ésse não pode morrer solteiro!
Eu não gosto dos ésses, abaixo os ésses de saloíce, do seguidismo, dos salamaleques
mas eu gosto da Ofia Mello Breyner, mas não gosto do Sousa, o Tavares
mas eu gosto da Ofia Loren, do José Aramago, só não gosto dos ésses.
O ésse vem no fim do abecedário, gosta de plurais, eu sou mais singular, sou mais um por todos
mesmo que um Benfica em mó de baixo
não gosto do ésse no todos por um, porque me cheira a todos por um tacho
não gosto do ésse de Sporting
não gosto do ésse da Sportv
não gosto das tv's que nos servem
não gostos dos salários que nos servem.
Abaixo os ésses e os ses!
Não gosto do S no início da palavra, não gosto do S no fim da palavra
Não gosto de Sócrates, o antigo, porque tem dois ésses
não gosto de Sócrates, o moderno, porque não gosto que me socratizem
porque tem dois ésses, porque de só, só gosto do António Nobre.
Abaixo o S
abaixo o so de solidão, de sofismas, de sofrimento
abaixo os ésses de safardanas, de sacripantas, de sidosos
porque o S é de sacana, de senil, é de senhor doutor
porque é também serpenteante, tem curvas, contra-curvas, ravinas
percorre o sul, o sotavento. É o princípio dos sismos, acaba em tempestades
temos que abolir o S do nosso vocabulário, já!
Para que precisamos do S em S. Bento? e a segurança social é melhor com dois ésses?
e a saúde com S?
Não aos S, aos SS, aos sistemas, aos esquemas
aos emblemas.
Abaixo o S! Abaixo o sa, o sal, o sala, o Salazar
Abaixo o só, o sozinho, o sozista, o Sócrates, os socráticos e os socreteiros!
Porque o António era um homem só, porque quem mandava era um homem só, porque isolados éramos um país só, em redoma periclitante.
porque não gosto de gente arrogante, nem de gente mareante, que navega
em naus douradas, enquanto a nossa pesca se afunda.
Basta de ésses.
Fora com os ésses de mentirosos
fora com os ésses de sabichões, de licenciados até ver, de doutores
de contadores de histórias, de aldrabões.
Fora com o sopro dourado dos apitos, com o sopro estrangulado da casa pia.
A verdade não tem ésse! a justiça não tem ésse!
Que os ésses sejam julgados no Rossio.
Fora com os ésses de senadores
abaixo as comissões, as assembleias, os colóquios
abaixo os ilusionistas, os malabaristas
Portugal não tem ésse
o povo não tem ésse
mas Sócrates tem
fora com os pinóquios, já!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

POEMA CATORZE



Dentro de nós ainda mora aquela arte de navegar
em mares tumultuosos e arribar a bom porto
POEMA TREZE




Quantas vezes as tempestades
irromperam nos castelos das nossas naus
varrendo o convés da proa à ré
Adamastores em fúria tentando derrubar a marinhagem
e os homens aguentavam as ondas desciam as velas
expulsavam as marés
e ressurgiam na crista dos oceanos vitoriosos

Quantas vezes as intempéries
percorrem hoje os frágeis fios que tecem
as velas do nosso descontentamento
são vampiros disfarçados de adamastores
que tentam afundar as nossas caravelas
neste oceano de desigualdades
POEMA DOZE




Amassamos o trigo que não temos
mas não queremos comer o pão que o diabo amassou.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

POEMA ONZE




não sei se teria espelho na altura, nem sequer, se o tivesse,
pudesse chegar a ele e ver a minha imagem refletida.
Como seria o meu sorriso olhando os meus caracóis loiros
que contemplo agora nesta fotografia a preto e branco corroída pela tempo.
Como seria o meu olhar, azul como o azul do rio que inundava as minhas brincadeiras,
quando a desgraça calava a vontade e desmoronava os sonhos.
Como seria o meu andar, quando o corpos inquinados de inquietudes
zarpavam mar adentro.
era menino eu sei, e não sabia nada.
Apenas ouvia a voz calada dos trabalhadores no bulício das tabernas
apenas sentia o tom agreste da miséria, gritada pelos homens
no silêncio da noite.
Era menino e nada sabia, e menino bebi palavras novas que mal podíamos soltar ao vento
eram palavras encarceradas, escondidas nas entrelinhas, dos livros passados de mão-em-mão
eram pássaros que esvoaçavam na primavera da minha vida.
Era menino e de nada sabendo, fui aprendendo.
Fui menino berço, menino escola, menino guerra.
Hoje, tenho espelho, mas tenho vergonha de me olhar nele
O meu olhar continua azul mas o rio onde me revejo não tem cor
o meu andar, é firme,mas o solo que eu piso é movediço
e os corpos mutilados, prenhes de promessas continuam a zarpar mar fora
e hoje eu sei tudo, nós sabemos tudo, mas engolimos o tom agreste da miséria
no bulício dos centros comerciais.
Não há hoje palavras escondidas nas entrelinhas, mas no silêncio das nossas noites agitadas
ainda há palavras encarceradas.
POEMA DEZ



não sei se foste anjo ou demónio
sei apenas
que o teu nome é António
POEMA NOVE




Somos um país a planar
à espera de um aeroporto para aterrar!
PINÓQUIOS




Somos um país de pinóquios, onde o primeiro frequentemente, mente, mente.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

POEMA OITO




Nasci ontem no fim duma catástrofe e no renascer duma nova era
era um menino que corria descalço sobre os picos da liberdade
mastigava o pão escuro das palavras que se adivinhavam turbulentas
bebia ávido o labirinto dos pensamentos.
Era um menino e já perscrutava a savana engolindo medos
tecendo desencontros, disparando vida.

Nasci ontem, outra vez em Abril, na aurora doutro destino
correndo calçado no tapete da liberdade
mastigando o sonho, largando ao vento palavras novas
bebendo esse néctar das promessas
continuando desesperadamente menino.

Nasci ontem sem ser rapaz, sem ser homem
continuo a ser menino, sem tempo, que o tempo o devorei
vorazmente, nessa bandeja de palavras gastas
com sabor a sonhos envelhecidos.

Gostaria de dizer que nasci hoje, mas já não há Abril que me prenhe
e se nascesse, seria outra vez menino
porque o meu país não cresceu.
POEMA SETE



Não tenho tempo nem época
essa ampulheta da vida esvaziou-se nesse deserto
que construí em dias contados
e se misturou nesses grãos de areia que teimam
em emperrar a engrenagem

E se a maresia me trouxe uma miragem
foram apenas imagens de um rio
que nunca chegou a ser mar
e se transformou em tempestades
que me delimitaram a viagem
FÁBULAS



Somos um país de fábulas, onde os animais até falam.

domingo, 6 de janeiro de 2008

POEMA SEIS




Caminhei por entre os vazios de Dezembro
moribundo de ideias
toldado pelas nuvens da hipocrisia
corri pelo tempo vertiginosamente sem pausas
mastigando essa ausência
do passado regorgito esse sonho castrador
de encontar a magia
do presente redefino as causas
e doravante dia por dia
tentarei decifrar o enigma do amor.
POEMA CINCO




Não é um poema que escrevo, é a vida.
Não são as palavras que dito, é o poema.
Não é o passado que sinto, é o país.
Não é o presente que vivo, é o futuro.
Palavra, poema, país
Vida, raíz profunda
Oh intransponível muro.

sábado, 5 de janeiro de 2008

O LIVRO TEMPO PER VERSO 3



Confesso que tive medo! Eram três da tarde e caminhei em passos apressados, fugindo à chuva, para a Galeria Artur Bual na Câmara Municipal da Amadora, onde estava previsto se realizar pelas 16 horas o lançamento do livro "Tempo per verso 3" da nossa tertúlia poética. E tive medo porque à chegada só encontrei os quatro elementos dos U'Tópicos, os jograis que iam dizer a nossa poesia, a Cecília Neves, responsável da Biblioteca Municipal, e mais dois ou três elementos da Tertúlia. Tive medo porque o evento já tinha sido marcado para outra data e desmarcado porque não tínhamos ainda o livro; porque os convites foram em cima da hora; porque com uma tarde chuvosa e as festas natalícias ainda frescas, as pessoas podiam não comparecer. Esta dúvida continuou tempo fora, mas perto da hora marcada, de repente, a sala começou a encher-se e foi necessário até recorrer a mais cadeiras para poder sentar toda a gente. Suspirei de alívio, eu e a Cecília Neves, pois para quem realiza o evento e para quem lança o livro é sempre penalizante ter uma casa vazia. Mas não, a sala encheu-se, (mais de cem pessoas) falou quem tinha de falar, disse poesia quem sabe do métier, e ficámos todos orgulhosos de ter realizado uma bonita sessão de poesia. Para a história deste nosso terceiro livro aqui ficam as palavras que, por motivos vários tive que dizer:


Boa tarde, agradeço a todos a vossa presença, e queria para começar, citar uma frase de José Carlos Ary dos Santos, retirada da canção "A desfolhada" interpretada pela Simone de Oliveira, " Quem faz um filho fá-lo por gosto". Ora este filho que aqui temos foi feito com muito carinho por este grupo de pais-avós que não desistem destes actos de amor. Mas foi uma gravidez dificil, num país onde se fecham maternidades e tudo se torna mais caro, não tivemos outra alternativa senão fazer nascer esta criança no outro lado da fronteira, em Espanha. Mas como diz o ditado "de Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos" e neste caso, "nem bons ventos, nem bons nascimentos". Foi um parto dificil, com todas estas tecnologias modernas , passámos o tempo em telefonemas, em email's, em mensagens e o baptizado marcado para 15 de Dezembro, com tudo pronto e convites enviados. por questões técnicas o livro só chegou 3 dias depois da data. Foi um parto tirado a ferros , e como tal, deixou sequelas, pequenas é certo e por isso pedidos desculpas a todos. Este livro foi um trabalho de um ano de reuniões na Biblioteca Municipal e no restaurante "O Fernando", em que se tinha de fazer poesia subordinada a tema, mas no entanto penso que faltou um tema: "o imprevisto" não só pelo que se passou anteriormente mas também pelo telefonema que recebi ontem à noite onde me foi dito que "os padrinhos" que deviam de estar aqui no meu lugar a falar, estavam doentes e não podiam comparecer. Assim, fiquei com a criança nos braços, mas o baptizado vai continuar e por isso passo a palavra ao Manuel Diogo, que dirá algumas palavras e poesia também. Obrigado.
POEMA QUATRO




Um país não pode ser um manjar
para uma alcateia de lobos esfomeados
que se degladiam à beira da bandeja.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

POEMA TRÊS



Esta janela entreaberta que nos dão para espreitar
não é mais que uma sacada forrada de tijolo e argamassa
parede estanque que cerceia o olhar.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

PAI NATAL DOIS




Está ali naquela esquina, daquela rua ou noutra rua qualquer, é magro, esquelético, andrajoso. Na cabeça tráz um gorro vermelho com borla branca, na mão direita dois jornais enrolados e na esquerda um pacote de Teobar, tinto, para dar cor. Durante o dia acena aos automobilistas, ajeita-lhes os carros, "troce, troce" e já está e torce pela moedinha que a veia tarda em recompensa. Distribui sorrisos, ó chefe, ó chefe: muito agardecido; distribui palavrões a quem se nega. À noite corre à Cova da Moura ou ao bairro de Santa Filomena e derrete a colecta. A vida deste pai natal é uma droga!
PAI NATAL UM




Figura típica neste país, veste Armani, viaja em mercedes último modelo, não sorri e é arrogante.
É administrador ou gestor em várias empresas e distribui desemprego aos mais necessitados. Para os familiares e amigos não é parco e atribui mais-valias, subsidios e cartões de crédito com largura de mãos. Às vezes vai para os governos, outras vezes sai dos governos e governa-se. Não é governador, não é doutor e às vezes até nem é licenciado mas que diabo para ser pai natal é preciso é ter amigos.
POEMA DOIS




Naquela heróica e leda madrugada
em que nos libertámos dos demónios
e esventrámos os algozes
e escorraçámos os vampiros
nunca sonhámos
que seríamos um país de nada.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

UM POEMA POR DIA E NÃO SÓ




É este o meu desafio para este ano. Sentar-me aqui em frente do computador e escrever um poema, um pensamento ou uma frase por dia. Serei capaz? vontade não me falta, o pior é se a inspiração não aparece...


POEMA UM


Somos um país de marinheiros,
galgámos marés, ventos, controvérsias
navegámos em naus e caravelas
circundámos oceanos
amainámos iras e tempestades
destronámos tiranos
presenteámos reis e princesas
conquistámos reinos
ouro canela marfim
à sombra do nosso padrão.


Fomos descobridores
de mares e terras sem fim
fomos poetas cantámos amores
aportámos ao desconhecido
ganhámos um império
engolimos adamastores.



E hoje neste mar europa encapelado
naufragamos as naus
e as caravelas
destroçamos os mastros
enrolamos o cordame e as velas
inunda-se o porão
afunda-se a armada
somos um país em vão
somos um país em vão de escada.
JORGE PALMA




Foi o cantor que marcou os últimos meses de 2007, lançando um novo trabalho, do qual destaco a canção "Encosta-te a mim". Não sou grande fã de Jorge Palma, por vários motivos, mas reconheço a qualidade de algumas das suas músicas. Mas não posso deixar passar em claro este "Encosta-te a mim", especialmente quando ele diz "... chegado da guerra..." pois eu aqui interrogo-me e ouso perguntar : de que guerra é que chegaste Jorge Palma?
ANO NOVO DE 2008?



Ano novo, vida nova, país velho. Creio que é tempo de fazer um inventário do passado, activar o presente, programar o futuro. Mas não sei se seremos capazes. Este país é uma equação onde cabem (espertos ao quadrado vezes n "doutores" em titulo)+( x oportunistas incompetentes + y politicotes de encomenda) x ( subsidios + tachos + compadrios + corrupção + gabinetes + assessores + carros último modelo + cartões de crédito + prepotência) : ( x brandos costumes + n ignorantes + desemprego + inflação + impostos) = - 0. Seremos capazes de alterar este resultado? Claro, se eliminarmos a parcela dos brandos costumes.