sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

REVIVER LISBOA

A camioneta da carreira passava à hora certa, Canhoto o chauffer, apitava estridentemente para avisar os retardatários. Todo aperaltado, saía de casa a correr, ainda a tempo de tomar o meu lugar na camioneta. Vergada ao peso das malas e outros atavios, que se alojavam no tejadilho, a viatura partia rumo a Lisboa, fazendo o trajecto junto ao rio até à Torre da Marinha, enviezando depois para o Fogueteiro e retomando outra vez a rota do rio quando se passava pela Amora, freguesia do Concelho do Seixal e desembocava na estrada nacional, estreita, mal arruada e pejada de carroças carregadas de hortiças, que se destinavam ao Mercado da Ribeira. A viagem até Cacilhas era atribulada e mais atribulada seria se o barco que me levava a Lisboa, atravessando o Tejo, apanhasse uma daquelas marés vivas, de águas esverdeadas e bastante onduladas. Depois no Cais do Sodré apanhava o eléctrico para o Camões, descia a pé até ao Chiado, contornava o Grandella e chegava ao Rossio. Atravessava a praça, ia à Suíça beber um café e tomava um autocarro da Carris, todo verde, sem publicidades, de dois andares e do alto do primeiro contemplava a avenida da Liberdade, olhando o Palladium e o Éden pela esquerda, espreitando o Condes e o Odeón, pela direita, chegando ao Marquês, disfrutando do Parque Eduardo Sétimo, rumando Fontes Pereira de Melo acima até ao Saldanha, ponto final da minha viagem. Ali, imponentes, estavam o cinema e o teatro Monumental. Na frontaria, um enorme cartaz, anunciando os espectáculos. No meu bolso um bilhete de 50 escudos comprado religiosamente semanas antes, dentro da sala uma figura incontornável da canção francesa: Adamo. Agora, sentado em frente do meu computador, ouvindo "Tombe la neige" revivo a Lisboa de então.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

POEMA QUARENTA E DOIS

Como eu sofro por ti, terra, vila, cidade
quando agarro as palavras dos que sofrem
os males que os donos deste país espalham ao vento.

E as crianças e os velhos aspiram esse pólen
que os sufoca e asfixia. E não cospem nem vomitam
essa mistela venenosa que lhes injectam.

Como eu sofro por ti gentio do meu país
cabisbaixo e destroçado numa amálgama de desânimo
encostado às cordas sem poder vir à luta.

E sofrendo, eu sonho que tudo se pode voltar
se nos erguermos, se esquecermos os brandos costumes
e se acrescentarmos asas, podemos voar!

YOUTUBE

Estou simultâneamente a escrever no blogue e em ligação com essa maravilha que é o youtube. Gravo as minhas pinturas enquanto oiço Tchaikovsky. Dez minutos da primeira parte da abertura 1812. Adoro o 1812! Antes passei Aznavour, os beatles , José Cid e Jacques Brell. Como é bom reviver estas músicas. Tenho muitos discos antigos, cassetes, dvd's e cd's mas o youtube proporciona-nos a música e a imagem de tantos cantores e canções de que obviamente não possuíamos registo. Por sorte hoje à tarde tive a oportunidade de ver na Tv uma parte do filme Guerra e paz. Memórias.

PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS

AUTO-RETRATO

CRISTO

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

SEIXAL

Nasci ali, numa casa entre a rua de cima e a rua principal, no Bairro Novo, ponto mais alto desta cidade ribeirinha, margem do rio Jordão, afluente do Tejo. Nasci ali na então vila de pescadores e corticeiros, entre duas ruas e duas fábricas de cortiça, refúgio e sustento das mãos operárias que moldavam as pranchas virgens da cortiça do Alentejo que chegavam em camiões ronceiros muitas das vezes guiados pelo velho Hildefonso e que chegavam adornados pelo peso da carga. As duas ruas, paralelas, desciam até à vila e encontravam-se com o rio, vislumbrando Lisboa ao fundo. O rio de então, era para mim um mar, que atravessaria mais tarde, centenas de vezes, rumo a essa Lisboa, no velho sul-expresso, barco instável e destemido que navegava marés e nevoeiros. Até lá, bordejava o Jordão até à velha escola primária e mais tarde até ao Barreiro, vizinho de agruras e misérias, e onde se chegava pelos velhos combóios a vapor da CP, atravessando a velha ponte de ferro. A vila vivia emparedada pelo rio e pelas diversas quintas que faziam o perímetro do concelho.
Hoje, a cidade do Seixal, modernizou-se, rompeu as barreiras desse espartilho, as fábricas desapareceram, as quintas lotearam-se e o betão cresceu. As novas ruas cruzaram o concelho, alargaram-se e alindaram-se. As escolas surgiram, o Tribunal ergueu-se, o combóio desapareceu mas no seu lugar nasceu uma nova estação fluvial. Surgiram os novos andares, as vivendas, os condomínios e até o Glorioso montou arraiais na Quinta de Trindade, com o seu Caixa Campus.
Mas nem tudo são rosas, a par do combóio que deixou de existir, foram-se as fábricas e até a Siderurgia Nacional se apagou. A cidade não tem um cinema e o clube da terra eclipsou-se. Ainda assim a cidade tem alguma vida cultural e projecta-se na agenda da Câmara Municipal, com o festival de Jazz e as exposições. Seixal, cidade margem do Tejo, com a sua baía voltada a Lisboa, tem hoje uma projecção maior muito por via desse monstro do desporto nacional que é o Sport Lisboa e benfica.

MADRID



Madrid, nove da manhã, hora local. Desembarcamos em Barajas depois de uma viagem calma de uma hora apenas. Como eu gosto. A procura das malas é um desespero, pela grandeza destes aeroportos, onde as distâncias a percorrer são sempre enormes. Espero que o nosso "Jamais" esteja um pouquinho mais organizado. Depois, a procura do metro e a viagem até à estação de Sevilla, na linha vermelha, depois de mudarmos em Colombia para a linha roxa e depois em Príncipe de Vergara para a linha vermelha. E eis Madrid, centro, rumo à gran via e ao hotel N10 Villa la Reina. Um hotel simpático de quatro estrelas, e duas espanholas atenciosas num check in rápido. Foi só um tempo para poisar as malas e partir à descoberta duma cidade desconhecida. Sexta-Feira, manhã cinzenta, uma multidão percorrendo as ruas, enchendo as lojas, os cafés, os bares, os restaurantes. Turistas de câmaras de filmar, de máquinas fotográficas, disparando foto atrás de foto. Um café e um cake num Starbruks de esquina, refaz a energia e leva-nos a galgar a Gran via até à plaza de España, percorrer a calle Baillén até ao Palácio real, tirar fotografias no jardim sabatini, passar pela Catedral de Almudena, ir até à plaza Mayor, ver as torres de los Luanes, correr a calle de Arenal e almoçar na Puerta del sol. Depois, passar pela Igreja de St. Cruz e pelo Palácio de St. cruz, ir até à calle de Alcalá, subindo até às puertas de Alcalá, passando pelo Banco de España, entrando na Plaza Cibelles, percorrendo o paseo de Ricoletos até à Plaza de Colon, vendo o Palácio de Comunicaciones, o palácio de Linares, a Biblioteca Nacional e o Museo Arquiológico. Depois de um sono de três horas apenas na noite anterior, a chegada ao hotel deu apenas para um ligeiro jantar e... cama. Acordar às oito, tomar o pequeno almoço e descer a gran via até à calle Alcalá, entrar na Plaza Cibelles e descer o paseo del Prado até ao Museo Thyssen. Ver Modigliani, encontrar aqui o português conhecido, da praxe, descer o paseo até à estação de Atocha, tão célebre e infelizmente conhecida, apanhar o metro até ao Campo de las Naciones e entrar na Feira de Arte Contemporânea-Arco, motivo principal desta visita. Três enormes pavilhões, centenas de galerias e dezenas de países representados numa mostra da arte que hoje se faz por esse mundo fora. Uma tarde inteira, num passo acelerado, para poder absorver toda essa substância artística. Milhares de pessoas, um almoço rápido, em pé, frente a frente a uma americana, directora de uma revista de arte, a um canto, junto de uma mesa sem cadeiras, num diálogo breve em espanhol e inglês, mastigando um bocadillo e uma cola. Voltar ao hotel, descansar um pouco e sair para uma volta pela noite, correndo à plaza Chueca, descendo a calle Montera com as suas meninas de mini saia, calças justas e preço na ponta da língua. Percorrer o Barrio dos Austrias, jantar por ali junto à barra de um bar na plaza del Calao. Manhã de domingo, cinzenta e mais fria, voltamos a descer Alcalá e o paseo del Prado, visitamos a estação de Atocha e rumamos ao Museu Nacional Rainha Sofia. Picasso está lá. Uma obra vastíssima que milhares de pessoas visitam. Em volta do Museu a agitação é grande, as filas também. Voltamos ao Paseo del Prado, subimos agora pelo lado contrário em direcção ao Prado. Hora e meia na fila para entrar, uma tarde para ver os grandes mestres, um almoço no museu e o resto do tempo para ir ao Barrio de Salamanca. O tempo chegou ao fim. Afinal ficámos a conhecer tão pouco de Madrid. Barajas está a quarenta minutos, o avião à espera e Lisboa a um passo. Voltaremos.

ESTRELAS

De repente as estrelas caíram do céu
Rasando as nossas cabeças
E nós distraídos nem sequer olhámos


Os peixes sobrelevaram as ondas
Cavalgando corcéis alados
E nós sem percebermos mergulhámos
As cabeças no vazio


E só depois quando as estrelas
Se afundaram no horizonte
É que reparámos que o mar não tinha mais peixes

MUSEO THYSSEN-BORNEMISZA


Três dias em Madrid é muito pouco tempo para ver tudo. Na sexta-feira corri parte da cidade a pé para ver o ambiente, as gentes, a arquitectura. No Sábado de manhã, foi o dia dedicado ao Museo Thyssen-Bornemisza e aqui apenas a exposição dedicada a Amedeo Modigliani foi possível ver. A exposição aborda um conjunto de obras desde a sua chegada a Patis em 1906 até à sua morte com apenas 35 anos de idade. Apesar tratar-se de uma exposição centrada num único artista, formam parte dela, tanto as suas obras, pinturas, desenhos e esculturas, como a dos artistas que faziam parte do seu núcleo artístico. A exposição apresenta o núcleo de Modigliani e seus mestres, retratos, desenhos, nús e paisagens. A exposição completa-se com uma sala dedicada a fotografias de Modigliani e lugares onde trabalhou e viveu. A exposição Modigliani e seu tempo que está em Madrid no Museu Thiessen até 18 de Maio de 2008. Vale a pena visitar até porque, com a polémica das alterações do Paseo do Prado da autoria de Siza Vieira, O museu está a pensar em mudar de ares...

AZNAVOUR - O CONCERTO

Um pavilhão do Atlântico cheio. No palco um orquestra de 14 figuras. Na plateia, entre novos e velhos, uma memória colectiva. No centro deste mundo, uma figura vestida de negro, imagem do eterno solitário e uma voz inimitável. Duas horas de espectáculo, um desfiar de canções velhas e novas, ao ritmo das nossas emoções. La bohéme em coro, uma lágrima perdida no tempo, uma Avé Maria profunda nas nossas recordações. Com Aznavour a canção francesa continua viva. Aos 83 anos de idade é uma imagem para o mundo e um exemplo para todos. Volta Charles!

SEREIAS

No espelho em que me vejo e me invento
Imagino as manhãs longas que vou parir
Sonhando este mar chão onde florescem
Pequenas sereias de quem acalento
Saborear os frutos que amadurecem
À beira-mar do meu contentamento.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

EL CORTE INGLÉS

Começa segunda-feira, dia 25 de Fevereiro, pelas 19 horas, no El Corte Inglés, um ciclo de conferências sobre "Lisboa e a História". A primeira sessão "Reflexões sobre a morte de um Rei" realiza-se no restaurante do 7º andar , junto à sala do Âmbito Cultural. Deixo aqui um apelo aos meus amigos e leitores do meu blogue: Apareçam.

O CONCERTO

Faltam poucas horas para ir para "La bohéme" que é como quem diz, rumar ao Pavilhão do Atlântico e ver e ouvir o concerto de Charles Aznavour. Até à última ainda tentei uma "borla" mas não foi possível e assim, tive que me "baldar ao guito" ou ficava em terra. (Ah este português da malta...). "Et pourtant" estou ansioso pelas 21,30 de amanhã.

TERAPIA DO AMOR - O FILME

Tenho uma estante cheia de DVD'S, muitos dos quais ainda não vi. De vez em quando compro um, outras vezes é o João Pedro que resolve aumentar o espólio. Últimamente aderi às campanhas do Correio da Manhã e do Jornal de Notícias, que às Sextas-Feiras oferecem um filme na compra do jornal. Um dia destes , depois de almoço, resolvi pegar num dvd ao acaso e ver descansadamente um filme. "Terapia do amor" foi o que me calhou na sorte e me proporcionou uma sessão de 100 minutos de um filme que explora com humor e ternura a alegria de nos apaixonarmos perdidamente por alguém e as lutas que inevitavelmente se seguem. Grandes diferenças de idade, percursos de vida desiguais e exigências de família tornam este filme num apetitoso romance moderno e urbano. Com interpretações de Meryl Streep, Uma Thurman e Bryan Greenberg , este é um filme a não perder.

MÁRIO SOARES À REVISÃO

Um dia destes num telejornal da Sic Notícias, Mário Crespo pergunta ao seu convidado, o inesquecível Presidente Mário Soares: " O sr. revê-se neste PS?" E Mário Soares respondendo disse:
" Se eu não me revêsse... se eu não me revêsse..."
E ainda querem mudar o acordo ortográfico!!! Alô Edite Estrela!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

TIMOR 2

NEW YORK

AS CHEIAS

Ligo a TV, folheio os jornais e as notícias são, nestes últimos dias as cheias. Não percebo porquê de tanta agitação. Nós estamos cheios de cheias, todos os dias durante o ano inteiro. São as politiquices CHEIAS de mentiras; são as bolsas de alguns, CHEIAS de dinheiro; são as barrigas dos pobres, CHEIAS de miséria; são as vidas dos jovens, CHEIAS de desemprego; são as administrações de algumas instituições bancárias CHEIAS de manigâncias; são as figuras do apito dourado CHEIAS de prosápia; são as pedofilias CHEIAS de inocentinhos e até os Valentins Loureiros de barrigas CHEIAS de vento, dão 15 a 0 à justiça!

ESTE MEU PAÍS

Já tenho alguns anos de vida, mas reconheço que não conheço nada do mundo. Do meu primeiro horizonte conhecido, o Seixal, até ao último, Madrid, vão um pequeno número de países e cidades, onde conheci pessoas, arquitecturas, costumes. Tenho feito, ao longo do tempo algumas críticas ao nosso país e de algum modo elogiado algumas terras por onde passei, mas nada do que disse e critiquei põe em causa o que penso: Sou português aqui e agora, como diria o meu amigo José Fanha, adoro o meu país e nunca viveria eternamente noutro país. Mas fico triste quando faço comparações e mais triste fico porque passados quarenta anos a culpa continua a ser do António ou do D. Afonso Henriques. Não aprendemos a crescer (alguns crescem, alguns crescem) e nem nesta Europa a vinte e cinco conseguimos sair da cauda. Costuma-se dizer "que só falta esfolar o rabo", mas a nós esfolam-nos a pele e roem-nos a carne. Não há cauda que aguente!

MASSACRES

A jornalista Felícia Cabrita escreveu o livro "Massacres em África" onde desvenda páginas negras da história. Não li o livro, mas espero fazê-lo em breve, no entanto fico na expectativa quanto às verdades boas e verdades más, ou por outra, para certas pessoas há guerras boas e outras más, ou massacres que se justificam e outros não. NENHUMA GUERRA É BOA!

DITADORES

As notícias de hoje dão relevo à despedida de Fidel de Castro e aos seus quarenta e nove anos de presidente. Nenhum jornal ou Televisão disse que com os seus 49 anos de DITADOR, Fidel entrou na lista de recordes batendo o velho António. Como se Cuba fosse uma democracia...

ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS

Li no jornal Metro uma entrevista com o actor espanhol Javier Bardem sobre um filme dos irmãos Coen e que ele interpreta. Nada sei sobre o filme apenas o título me saltou à vista: "Este país não é para velhos". Não faço a mínima ideia de que país se trata, não conheço o argumento mas o título pode bem aplicar-se a este nosso bem amado país. Só que, também me parece que não é para as crianças, nem para os jovens. É um país só para alguns! A título de curiosidade a estreia está marcada para o dia 28 de fevereiro.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A VISITA

Três dias não dão para muito e pensando que a viagem tinha como fim visitar a ARCO, muito menos tempo ficou para a cidade. Acrescentando que visitei o Museu Thiessen para ver Modigliani, corri ao Museu Rainha Sofia para ver Picasso e ainda dei um salto ao Prado para ver os Mestres, podem calcular que foi uma correria sem fim. Mas valeu!

AQUI É OUTRA MÚSICA

Em Espanha um Zapatero faz política
Em Portugal um sapateiro toca rabecão.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

POEMA QUARENTA E UM

Como eu te amo Lisboa
e choro por te ver triste e deserta
Como eu choro ao correr as calles de Madrid
e ver este fervilhar de alegria à sexta ao sábado
nas plazas nos paseos nos museos
Ah como eu gostava de ver o Rossio pela noite fora
agitado num mar de portugueses felizes
a avenida da Liberdade palpitando de gente
do Marquês aos Restauradores
Correr do Chiado aos Cais do Sodré e ver o rio engalanado
por um gentio sentindo a maresia da vida
Ir ao Camões, subir ao Príncipe Real
ver a baixa do alto de S. Pedro de Alcântara
Sentir o vaivém das compras de loja em loja
por entre o Coliseu e a Praça da Figueira
Aspirar o aroma da ginginha comer um bife na Suíça
ir à Nacional tomar um café
retornar ao Rossio apanhar o combóio
e regressar a casa sem regressar ao passado.

AUSÊNCIA

Já não escrevo há alguns dias, não porque a inspiração não viesse, mas porque estes últimos dias têm sido um pouco atribulados. Especialmente porque decidi vir a Madrid à Feira Internacional de Arte Contemporânea, vulgo ARCO. E é exactamente de Madrid que estou a escrever estas linhas depois de dois dias de estadia, o que não sendo muito, já deu para verificar que efectivamente isto é outro mundo. Que diferenca entre Portugal e Espanha! Escrevi em tempos quando visitei outro país, que pareço um "parolo" a visitar a cidade. A minha visão de cidades e países é curta, mas tem vindo a aumentar, porque a pouco e pouco tenho perdido este não gostar de andar de avião e calmamente, em viagens de pouco tempo lá vou esvoaçando. Fiz no começo do ano a promessa de escrever um poema por dia e até agora, excepto nesta ausência, tenho cumprido, agora tenho em mente outro projecto, que é falar das terras que já conheci. Nao será um livro de viagens, mas somente um dar a conhecer de vilas e cidades por onde passei.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

SOBRE TIMOR

O quadro que abaixo trago ao blogue, faz parte de uma série de pinturas que fiz em relação a Timor, bem como alguns poemas que escrevi sobre este jovem país. Todos os impérios caem, e o nosso para não fugir à regra também se desmoronou. Timor tornou-se independente, mas está claramente dependente de tudo e de todos. Naquele tabuleiro de xadrez continua o jogo, e nós que fomos rei, rainha e bispo, somos agora um pequeno cavalo, que em saltos inopinados, tenta pôr ordem naquele campo minado. Relembro aqui e agora o poema intitulado "Povo Mauber" e que foi premiado num concurso de poesia da Câmara Municipal da Amadora.


POVO MAUBER

Trilharam caminhos
galgaram veredas
subiram montanhas
de mão em mão
pelo silêncio da noite
murmuraram a dor
morderam as lágrimas
sufocaram a emoção

Queimaram-lhes as casas
mataram-lhes os filhos
vergaram-lhes os corpos
em vão
derramaram-lhes o sangue
infernizaram-lhes a vida
mas os sonhos o carácter a alma
NÃO!

TIMOR

sábado, 9 de fevereiro de 2008

SONHO

Um dia sonhei que o meu país era um país!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

POEMA QUARENTA

Já não são as marés que desmaiam na orla do teu corpo
e escorrem em pequenos riachos para a reentrância do teu ventre
que adornam a minha nau
Já não são os ventos que se amainam nas encostas dos teus seios
e acariciam o aveludado dos teus cabelos
que enfunam as velas da minha caravela
Já não são as noites de luar que se projectam no teu rosto
e iluminam o teu sorriso
que inundam o porão do meu navio

São as tempestades que se avizinham que tornam este oceano tumultuoso
e levam esta frágil armada a naufragar

CAVALO MARINHO

POEMA TRINTA E NOVE

Que me importa apenas um poema
feito de palavras incontroladas
se o grito nelas contido
for sufocado?

CHARLES AZNAVOUR 2

Fiquei agradavelmente surpreendido com a entrevista que Judite de Sousa fez ontem na RTP ao cantor Charles Aznavour. E fiquei surpreendido por ver um "jovem" de oitenta e três anos, com um ar sereno, um discurso nada saudosista e uma frontalidade assombrosa. Aznavour não é só um homem das canções e do cinema, mostra-se também um humanista, conhecedor dos males da nossa sociedade e dos perigos que acossam o nosso planeta. A sua luta pela causa dos mais necessitados é de realçar. Respondendo a Judite de Sousa, referiu que esta é a última digressão... antes da próxima e assim, com projectos deste tamanho se vê a força deste francês que conheceu Amália Rodrigues, adora o fado e tem duas canções sobre Portugal: "Lisbonne" a mais antiga e "fado, fado" a mais recente e que irá interpretar no Pavilhão do Atlântico. Para terminar apenas uma pequena correcção no seu discurso e que Judite de Sousa, por desconhecimento, não corrigiu:
o recital que deu em Lisboa há mais de trinta anos, não foi no Teatro Nacional, mas sim no Teatro Monumental. Até breve Aznavour.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

POEMA TRINTA E OITO

Como eu queria que essa passadeira sobre o mar
fosse um tapete mágico de tamanho encanto
onde os nossos desencontros pudessem viajar

Como eu queria que o teu corpo fosse um manto
que cobrisse o Atlântico oceano e fosse espraiar
nas margens-raízes do nosso desencanto

CHARLES AZNAVOUR

É já no dia 23 de Fevereiro deste ano que se apresenta no pavilhão do Atlântico esse grande cantor romântico que é Charles Aznavour. Aos 83 anos e com mais de 100 milhões de discos vendidos, Aznavour é um marco na canção mundial, ao ponto da revista Time e da cadeia de televisão CNN o considerar o maior artista do século XX. Aznavour visitou Portugal há mais de trinta anos, num espectáculo no antigo Cinema Monumental e em que cantou mais de trinta canções, sendo ovacionado de pé, durante mais de vinte minutos. Posso dizer que fui um dos privilegiados ( mil e poucos espectadores) que assistiram ao show. Cantou canções em várias línguas, foi actor , em mais de sessenta filmes e realiza agora a sua última tournée antes de se retirar. Canções como "que c'est triste Venise", "la mamma", "Isabelle" ou mais recentemente "She" que esteve várias semanas no top inglês e que serviu de fundo ao filme "Notting Hill", são memórias da minha memória. Espectáculo a não perder!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

NOVA IMAGEM

Bem-vindos ao novo poezzart, fruto de uma reorganização levada a cabo pelo Gustavo e pela Rita, numa tarde-noite de Carnaval. Não fomos foliar, mas acreditem que gozámos bastante na elaboração deste modelo. Ainda está aquém daquilo que pretendemos mas com o tempo decerto que chegaremos lá. Espero que gostem da nova imagem e que, gostando também do conteúdo, possam fazer os vossos comentários.

POEMA TRINTA E SETE

Quantas vezes me sento na muralha junto ao rio e regresso
ao tempo da partida
descia então o rio aquele emaranhado humano que se acotovelava
na amurada do navio
e os nossos acenos descobriam junto ao cais as lágrimas de quem via partir
um pedaço da pátria o gentio
Quantas vezes me sento na muralha junto ao rio e regresso
ao tempo da chegada
subia então o rio aquele barco em cuja amurada
faltava alguém para responder à chamada

POEMA TRINTA E SEIS

Não sei que vento é este que nos empurra para a tempestade
não sei que força é esta que destroça tantos navios
fomos sempre homens do mar
mareámos naus e caravelas entre naufrágios e descobertas
fomos a semente dos marinheiros do porvir
aportámos ao mundo marcámos as rotas
será que não temos mais caminhos a descobrir?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O PAÍS QUE SOMOS

Somos um país de polícias e ladrões.
Somos antes um país de maus polícias e bons ladrões...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

POEMA TRINTA E QUATRO

É este o rio do nosso contentamento
que corre entre margens recortadas para o seu destino final
rio em desalinho de águas turvas
E de marés calmas sem grandes ondulações.

Oh rio do meu desalento
porque não desatinas e transbordas
inundando a nossa permissividade
agitando no teu interior essa revolta dos peixes
que tardam em saber nadar.

POEMA TRINTA E TRÊS

Este Tejo que me viu partir e chegar
continua tristemente a correr para o mar.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

POEMA TRINTA E DOIS

Um rei caiu ali junto ao Terreiro do Paço
fronteira entre o Rossio e o mar
Um tiro apenas esvaziou um reinado.

Outra nação emergiu
desse barco naufragado
tão longe do Oceano tão perto do rio
e nós sem sabermos nadar.

POEMA TRINTA E UM

Abram as portas das prisões, soltem os criminosos
dêem-lhe esta liberdade envenenada e
prendam essa cáfila de pobretanas que se arrastam na miséria
à mingua, sem eira nem beira.
Construam novas prisões e aprisionem lá aqueles que ficam no desemprego
acantonem os jovens licenciados sem emprego
obriguem-nos a trabalhos forçados.
Encarcerem os reformados, esses velhos párias
que andam para aí a tomar conta dos netos
tirando miseravelmente essa função ao estado
que sobrevivem com essas pensões de luxo de duzentos euros.
Chaga social que exige remédios mais baratos, que ainda quer estudar
nessas universidades da terceira idade- oh luxo! -
gente que quer ter proveitos com os certificados de aforro
e invejam os pequenos lucros dos bancos.
Massa povo que não tem pena dos pedófilos nem do apito dourado!
Prendamos essa escumalha da classe média!
Que país é este que deixa em liberdade esta caterva de ignorantes
que forjam ilegalidades, manuseiam traficâncias, evidenciam corrupção e
pelo contrário ataca essa classe de gestores, administradores e outros doutores
que com os seus parcos recursos andam pela vida a estender a mão...