sábado, 28 de fevereiro de 2009

TILDINHA

Curiosas são as palavras que a Tildinha quer introduzir no léxico nacional.

Assim para o feminino de lutadora responde luteira, para o de padre, diz padra, para herói, lá vai heroa e finalmente para pinguim, simplesmente pinguína. Se o bué já entrou, se a caminho vem um chorrilho de brasileiradas, porque não esta linguagem de uma portuguesita de 3 anos?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O CONGRESSO DOS PINÓQUIOS

Pinóquio, por Gris Grimly... e toca a mentir!

CONGRESSO DO PS-RECORDE PARA O GUINESS

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4d/Pinocchio_3ak.jpg

CASAMENTO ENTRE HOMOSSEXUAIS

Grande Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido Figueiredo.

CASAMENTO: União legítima entre homem e mulher.

CASAL: Par composto de macho e fêmea, de marido e mulher.

HOMOSSEXUAIS ?

MARICAS-MARICÃO-RABO-RABETA-LARILA-RABICHO-PANASCA-PEDERASTA e na gíria popular aquele que "atraca pela popa", que "engole a palhinha", que "abafa a costeleta" mas na realidade simplesmente Paneleiros.

CAMPANHA NEGRA?


Só se for na Cova da Moura - Amadora!

CARNAVAL

Vale a pena revisitarmos estes dias passados do Carnaval e vermos o que nos rodeia. O nosso entrudo não é este, já não bastava termos aviões cheios de jogadores de futebol vindos do Brasil, já não bastava termos as nossas cidades invadidas pelas prostitutas brasileiras, já não bastava termos de falar e escrever como os ditos indígenas, como agora termos que levar com as escolas de samba nos nossos desfiles de Carnaval. Basta de Brasileiradas!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

CONTRA CAPA DO LIVRO ESTE MAR QUE ARDE


Aqui fica o registo da excelente prosa poética que a poeta e pintora Ana Viana me presenteou na contra-capa do meu livro "Este Mar Que Arde".

ESTE PAÍS QUE TEMOS


Éramos o país dos três efes: Fátima Fado e Futebol. Agora somos o país dos Pinóquios!



BORDALO PINHEIRO


Somos Zé e somos Povinho mas atenção!


PS: Não somos atrasados mentais!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ARTIGO DE OPINIÃO

Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.

Este é um país em que a Câmara Municipalde Lisboa, desde o 25 de Abril distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras
notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.

Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. gora contínua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido. Para garantir que vai continuar burro o grande cavallia (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.

Gente assim mal formada vai aceitar tudo e o país será o pátio de recreio dos mafiosos.

A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca.


Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.

Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas Consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.

Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os
criminosos ou quantos crimes houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.

E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e
esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.

Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de
Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém quem acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem
por ser investigados, julgados e devidamente punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos?

Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida?

Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?

Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?

Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?,

Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.

No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém?

As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.

E a miúda desaparecida em Figueira? Oque lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?

E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu?

Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?

O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?

E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.

Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.

Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens , de corporações e famílias , de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa

Clara Ferreira Alves - "Expresso"

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

ARTIGO DE OPINIÃO

MÁRIO CRESPO IN JORNAL DE NOTÍCIAS




Está bem... façamos de conta
Ontem

Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.
Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

CASAMENTO ENTRE HOMOSEXUAIS

Pergunta inocente:

Se por acaso um PR ou um Primeiro Ministro, (só por mero acaso), for homosexual, será que nas cerimónias oficiais teremos uma primeira-dama "machona" e de bigode farfalhudo?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

DRAGÕES

Desse leito de palavras ambíguas
onde mergulhámos
saltam dragões que incendeiam
as pontes levadiças
do nosso castelo desencantado.

NÓS POR CÁ...

Discurso do ex-1º Ministro Australiano John Howard à Comunidade Muçulmana

Esperemos que a Europa siga o exemplo...

Discurso do 1º Ministro Australiano à comunidade Muçulmana


Aos Muçulmanos que querem viver de acordo com a lei do Sharia
Islâmico foi-lhes dito muito recentemente para deixarem a Australia,
no âmbito das medidas de segurança tomadas para continuar a fazer face
aos eventuais ataques terroristas.
Aparentemente, o Primeiro Ministro John Howard chocou alguns
muçulmanos australianos declarando que apoiava agências-espiãs
encarregadas de supervisionar as mesquitas da nação. Citação:

OS IMIGRANTES NÃO-AUSTRALIANOS, DEVEM ADAPTAR-SE. É pegar ou

largar ! Estou cansado de saber que esta nação se inquieta ao
ofendermos certos indivíduos ou a sua cultura. Desde os ataques
terroristas em Bali, assistimos a uma subida de patriotismo na maioria
do Australianos.'
A nossa cultura está desenvolvida desde há mais de dois séculos
de lutas, de habilidade e de vitórias de milhões de homens e mulheres
que procuraram a liberdade.'
A nossa língua oficial é o Inglês; não é o Espagnol, o Libanês,
o Árabe, o Chinês, o Japonês, ou qualquer outra língua. Por
conseguinte, se desejam fazer parte da nossa sociedade, aprendam a
nossa língua!'
A maior parte do Australianos crê em Deus. Não se trata de uma
obrigação cristã, de influência da direita ou pressão política, mas é
um facto, porque homens e mulheres fundaram esta nação sobre
princípios cristãos, e isso é ensinado oficialmente. É perfeitamente
adequado afixá-lo sobre os muros das nossas escolas. Se Deus vos
ofende, sugiro-vos então que encarem outra parte do mundo como o vosso
país de acolhimento, porque Deus
faz parte da nossa cultura.'
Nós aceitaremos as vossas crenças sem fazer perguntas. Tudo o
que vos pedimos é que aceitem as nossas e vivam em harmonia e em paz
connosco.
ESTE É O NOSSO PAÍS, A NOSSA TERRA, E O NOSSO ESTILO DE VIDA'.
E oferecemos-vos a oportunidade de aproveitar tudo isto. Mas se vocês
têem muitas razões de queixa, se estão fartos da nossa bandeira, do
nosso compromisso, das nossas crenças cristãs, ou do nosso estilo de
vida, incentivo-os fortemente a tirarem partido de uma outra grande
liberdade autraliana, : 'O DIREITO de PARTIR.' 'Se não são felizes
aqui, então PARTAM.
Não vos forçamos a vir para aqui. Vocês pediram para vir para cá.
Então, aceitem o país que vos aceitou.'

domingo, 8 de fevereiro de 2009

QUATRO CASAMENTOS E UM FUNERAL

Segunda-feira, nove da manhã, desço a rua Alexandre Herculano, volto aos sinais e sigo em frente até à rotunda. Volto à direita e vou pela rua paralela à via férrea, atravesso o jardim central e estaciono junto à Universidade Sénior. Desço a escada e estou na minha sala de aulas, arrumando as mesas, colocando o material e esperando pelos alunos.

Terça-feira bem cedo rumo à IC 19, percorro o trajecto em andamento mais ou menos rápido até à Segunda Circular, tomo o lugar na fila que escorre mais lentamente e passando o nó de Pina Manique rápido estou nas torres de Lisboa. Entro na empresa, faço o ritual dos visitantes e depressa estou no elevador até ao terceiro andar. Na sala respira-se o trabalho, eu sou a desestabilização, entro pé-ante-pé, percorro as secretárias, dou um olá em geral e vou até aos meus antigos colegas. Um beijo, um aperto de mão, o convite para o café, e lá vamos os oito para o pequeno bar mordiscar um sortido de chocolate, pôr as notícias da semana em dia e dizer em surdina: "bolas o euromilhões não há meio de nos sair". Um adeus, até para a semana, sair para outros andares, ver uma e outra cara conhecida e sair horas depois naquela liberdade que eles não têm. Aquela "prisão" que já foi minha é agora um areal onde de me vou espraiar...

Quarta-feira vou pela tarde até Telheiras, espero junto ao colégio pela hora certa. Entro. Espreito pela vidraça da porta o desassossego da pequenada, assim que me vê, M... salta da cadeira e corre aos gritos para os meus braços: avô... E os dois, bem juntos porque a chuva não pára, corremos para o carro e rumamos a casa. As histórias sucedem-se, a irreverência continua, e ambos no chão da sala revivemos a Bela Adormecida, a Aurora e o Príncipe, as pollis, o Mickey e a Minnie. A noite chega, a chuva continua a cair e nós vivemos.

Quinta-feira. O Atelier espera por mim, pelo chão dois ou três quadros inacabados, a um canto o retrato de M por acabar, em cima da mesa junto a um pequeno sofá um livro que terminei de ler e que espera uma arrumação na estante. Não me apetece pintar, ler também não, muito menos arquivar aquele monte de papéis que esperam a sua vez, vou para o computador e escrevo. Pelas cinco da tarde passo pelos meus amigos que se reúnem em plena rua ao frio e à chuva. Dois dedos de conversa, encontros e desencontros de palavras, discussão dessa clubite aguda e consenso geral: este país está uma merda. Volto a casa, arrumo os tarecos, ponho a loiça a lavar, faço o jantar e espero que pelas dez da noite venha a primeira dama (morta de trabalho) e o príncipe herdeiro para um jantar feito de palavras gastas.

E UM FUNERAL

Percorro a IC 19 até Sintra debaixo de um tempo esquisito. Ora nublado ora solarengo. As novas obras, com a abertura de uma nova via, deviam fazer-me chegar rápido ao destino, mas infelizmente e à portuguesa, fazem-se desvios, sinalizados só no primeiro troço, depois... bem depois é atirar à sorte o rumo que devemos seguir. Por puro instinto desviei-me sempre bem e cheguei à capela a horas. O sol estava fortíssimo, as nuvens inquietas, a chuva recolhida. Puro engano! Em pleno cemitério, o sol recolheu-se, as nuvens zangaram-se e a chuva desabou, em catadupas. Mas a vida continua.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O DIA "D"

Nunca escrevi um diário, ou por outra, comecei já lá vão muitos anos, quando de partida para a guerra, um esboço que se ficou por meia-dúzia de páginas, enquanto o velho "Niassa" navegava oceano fora. Morreu ali, mesmo às portas do cais de Luanda. Não mais escrevi uma linha em "diário". Durante a guerra o meu diário foi ficando gravado na memória. Os tempos, os ventos, as marés, estão ainda bem vivos algures numa "gaveta", ou se quisermos, na memória ram da minha cabeça-computador. De lá já retirei pequenos pedaços de vida e que registei no livro "Éramos todos bons rapazes" que publiquei em 2008. Poderia dizer que no meu blogue todos os registos são pequenas peças de um diário, o que não é de todo mentira, mas não é um diário na verdadeira acepção da palavra. Agora, que uma das minhas alunas da pintura me ofereceu um pequeno livro, com o retrato de Fernando Pessoa na capa (que ela retirou do meu blogue) dá-me vontade de começar a escrever. Mas penso que poderei também retirar dele breves trechos de escrita e fazer um mini diário no meu blogue. Hoje é o dia D.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A PALAVRA DOS OUTROS

"Se José Sócrates acha suspeito que isto surja agora em vésperas de eleições então deveria achar natural que se suspeite dele por ter aprovado o Freeport também em vésperas de eleições"

Pedro Almeida Vieira
in jornal "O Diabo"

MANIFESTO

Este meu poema foi escrito em 2008. Volta agora aqui, porque os ésses estão na moda. Há quem afirme que este assunto tem que ser tratado com pinças. Eu diria que com luvas, de pelica, de cabedal ou pele, porque na nossa pele vamos sentir as outras.


MANIFESTO ANTI-S

Eu não gosto de ésses.Basta de ésses!
Abaixo os ésses, a dinastia dos ésses, a pluralidade dos ésses
dos de sá, que me lembra o pinto e o pinto que me lembra costa
e o mar que me salga, que destila sal, que vai à sala e
por azar também é sa, de sal, de Salazar
e do ar, que nos deu, inquinado ou não, conforme a opinião
ar de mar, de maresia, de opinar, de cortar o pensamento e degredar.
Não gosto de ésses
abaixo a monarquia dos ésses!
Abaixo os reis, abaixo o S de Sebastião, mas abaixo o nosso reizinho, não!
Abaixo o se de bastião, não gosto de bastiões, nem sequer envoltos em nevoeiro
que os ésses podem voltarem em manhãs de escuridão
mas às vezes, porque não, servir um certo abanão
à mesa dos comilões.
Não gosto do S de salmão, mas gosto de salmão, posso tirar-lhe o S e gritar p'rá cozinha:
sai um prato de almão, mas nós não temos almão
temos apenas alminha, tão débil, tão quebradiça
que nem a hóstea da missa, servida em taças de prata
nos equilibra a balança, e o mundo pula e avança como bola colorida
e não nos enche a pança, não nos sara a ferida
aberta por esses ses da nossa peregrinação.
Basta de ésses!
O ésse é de servil!
o ésse é de sorumbático!
o ésse é de salsada!
o ésse é de salafrário!
o ésse não pode morrer solteiro!
Eu não gosto dos ésses, abaixo os ésses de saloíce, do seguidismo, dos salamaleques
mas eu gosto da Ofia Mello Breyner, mas não gosto do Sousa, o Tavares
mas eu gosto da Ofia Loren, do José Aramago, só não gosto dos ésses.
O ésse vem no fim do abecedário, gosta de plurais, eu sou mais singular, sou mais um por todos
mesmo que um Benfica em mó de baixo
não gosto do ésse no todos por um, porque me cheira a todos por um tacho
não gosto do ésse de Sporting
não gosto do ésse da Sportv
não gosto das tv's que nos servem
não gostos dos salários que nos servem.
Abaixo os ésses e os ses!
Não gosto do S no início da palavra, não gosto do S no fim da palavra
Não gosto de Sócrates, o antigo, porque tem dois ésses
não gosto de Sócrates, o moderno, porque não gosto que me socratizem
porque tem dois ésses, porque de só, só gosto do António Nobre.
Abaixo o S
abaixo o so de solidão, de sofismas, de sofrimento
abaixo os ésses de safardanas, de sacripantas, de sidosos
porque o S é de sacana, de senil, é de senhor doutor
porque é também serpenteante, tem curvas, contra-curvas, ravinas
percorre o sul, o sotavento. É o princípio dos sismos, acaba em tempestades
temos que abolir o S do nosso vocabulário, já!
Para que precisamos do S em S. Bento? e a segurança social é melhor com dois ésses?
e a saúde com S?
Não aos S, aos SS, aos sistemas, aos esquemas
aos emblemas.
Abaixo o S! Abaixo o sa, o sal, o sala, o Salazar
Abaixo o só, o sozinho, o sozista, o Sócrates, os socráticos e os socreteiros!
Porque o António era um homem só, porque quem mandava era um homem só, porque isolados éramos um país só, em redoma periclitante.
porque não gosto de gente arrogante, nem de gente mareante, que navega
em naus douradas, enquanto a nossa pesca se afunda.
Basta de ésses.
Fora com os ésses de mentirosos
fora com os ésses de sabichões, de licenciados até ver, de doutores
de contadores de histórias, de aldrabões.
Fora com o sopro dourado dos apitos, com o sopro estrangulado da casa pia.
A verdade não tem ésse! a justiça não tem ésse!
Que os ésses sejam julgados no Rossio.
Fora com os ésses de senadores
abaixo as comissões, as assembleias, os colóquios
abaixo os ilusionistas, os malabaristas
Portugal não tem ésse
o povo não tem ésse
mas Sócrates tem
fora com os pinóquios, já!