terça-feira, 24 de janeiro de 2012

FEIRA DA LADRA

Hoje fui à feira da ladra! há quanto tempo não percorria os caminhos que vão dar a esta tradicional feira lisboeta. As ruas pejadas de gente, os feirantes espalhados por todos os espaços imaginários, as bancadas com todas as "velharias" desordenadas pelas bancas, o chão de lençóis atapetado, cobertos de artigos novos e velhos, são o chamariz para quem procura a "tal" peça a preços irrisórios. A feira da ladra continua igual a si mesma. Notting hill é uma feira em Londres mas de uma só rua. A feira da ladra é uma feira de todos os espaços. Inigualável!





Feira da Ladra

sábado, 14 de janeiro de 2012

DIA 14, POEMA VINTE

VAMPIROS



tanto canto tanto mar
tantos vampiros tanta orgia tanto manjar
e nós
marinheiros
sem sabermos nadar.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

DIA 13, POEMA DEZANOVE

VOLTAR


Todas as cidades são rios que nos levam até ao mar
e do mar ao horizonte e do horizonte ao além
todos os rios são navios que vão pelos oceanos
todos os homens são marinheiros que não sabem navegar
todas as horas são dias todos os dias são anos
e nem todas as sementes voltarão à terra mãe.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

DIA ONZE, POEMA DEZOITO

MARINHEIROS



se formos todos marinheiros se em navios de breve esperança
navegarmos em tumultuosas marés
quem ficará para chorar a nossa ausência?

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

DIA DEZ, POEMA DEZASETE

QUE ILHAS TENS TU


que ilhas tens tu para me dar
que ilhas me dás para descobrir
se eu partir rio abaixo até à foz
se eu da foz me fizer até ao mar


fazer-me ao mundo sem ter lugar
olhar para trás e poder sentir
que havendo mar não cala a voz
das ilhas que vamos despertar.

DIA DEZ, POEMA DEZASSEIS

AINDA O MAR


cumpriu-se o mar de Pessoa, cumpriu-se de ti Sofia
esse mar novo que nos deste
que falta cumprir meu amor? se em nós o mar
é desafio ou fatalidade
se o destino é este fado património de nós
que nos tolhe ou desafia
e nos faz zarpar sem saber afinal
se vamos cumprir Portugal.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

DIA NOVE, POEMA QUINZE

CANTO CORAL


do coro dos pássaros solta-se o canto
que os peixes ouvem no seu coral
é a brisa leve que quebra o espanto
é o mar a madrugada o madrigal
que invade e suaviza o meu pranto.

domingo, 8 de janeiro de 2012

DIA OITO, POEMA QUATORZE

OS NOVOS DO RESTELO


estou sentado ali à beira do poema, que se faz rio ou mar
numa fronteira que não vislumbro
procuro desesperadamente os velhos do Restelo
quero saber se o mar tem volta
quero saber se os navios ou naus ou caravelas
têm o mesmo destino que os seus pensamentos
mas ninguém me ouve ninguém me responde
só os novos de S.Bento me apontam o caminho
lá do alto do seu castelo.

sábado, 7 de janeiro de 2012

DIA SETE, POEMA TREZE

NAVEGAR


Há um farol que me indica, vai por ali, que aqui não tens mais cais para atracar
e eu subo ao cesto da gávea tentando descortinar por entre o nevoeiro o barlavento.

Range o cabo da amarra, solta-se a mezena, não há molinete que segure a vela
e eu, agora no convés, procuro o leme que leve a bom porto a caravela.

DIA SETE, POEMA DOZE

GEOMETRICAMENTE


por mares geometricamente navegados
já não vamos dar mundos ao mundo
vamos por esses oceanos bolinados
tentar que a nau não vá ao fundo.

e se os nossos antepassados arribaram a porto seguro
nós, navegando, alteramos a geometria do futuro.

DIA SEIS, POEMA ONZE

BARCO DO TEMPO


Não vale a pena medir as tempestades
que o barco do tempo que não temos terá que navegar nelas.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

DIA CINCO, POEMA DEZ

NÃO SEI DE COR AS ILHAS


Já não sei quantas ilhas temos mas sei do mar que as rodeia
sei dos ventos e tempestades que por entre escarpas de silêncios
fustigam os rostos comiserados de quem não quer partir.

Já não sei quantos sorrisos temos mas sei desta teia
que nos envolve e força a ausência
coarctando-nos o amanhã que há-de vir.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

DIA QUATRO, POEMA NOVE

CORAIS


se nas águas das ilhas houver corais
eu gostava de mergulhar no ventre do mar
e saber dos peixes porque é que tu
que partiste noutras marés
estás agora a voltar.

DIA QUATRO, POEMA OITO

EMIGRANTE


será exílio ou oportunidade esta geografia que nos dão
cobrindo o vazio que nos resta na terra mãe
em dia de mar novo dividir o tempo em navegação
partir como colonizador e chegar como refém
a terras onde outrora erigimos um padrão.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

DIA TRÊS, POEMA SETE

ESTE MAR VELHO


este mar velho que inundou as nossas vidas
era um jardim proibido de rostos entristecidos
moldados a fogo pelo tempo e pelas ânsias vividas
num caldeirão de tumultos repetidos.


será que este mar velho que não queremos
que banha as praias do nosso querer
e se enrola traiçoeiro no extenso areal
pode um dia sem nós nos apercebermos
agonizar e pouco a pouco morrer
fazendo nascer um mar novo real.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

DIA DOIS, POEMA SEIS

AS COISAS


das coisas os nomes vamos esquecendo
e tu meu amor esqueceste o mar
mesmo quando o mar morrendo
nos faz chorando, zarpar.

outra vez os nomes das coisas do mar
outra vez as coisas, as naus, as velas
outra vez marinheiros a navegar
mas agora outros nomes têm elas.

Agora os marinheiros voam pelo ar
e aterram os nomes das coisas no chão
porque tu meu amor esqueceste o mar
e naufragas nas marés da ilusão.

DIA DOIS, POEMA CINCO

O NOME DE OUTRAS COISAS


descobrir outra revolução, quando o teu corpo jaz aqui e arrefece
é como mergulhar no oceano sem saber nadar e no entanto
as areias inquinadas que o mar beija e o sol aquece
são as esperanças que se estendem pelo manto
e se espraiam pelo sonho que não se desvanece.

DIA DOIS, POEMA QUATRO

GEOGRAFIA


Sentem-se as areias movediças debaixo das estruturas
o esqueleto balança prestes a se afundar e não sei
se esta dança de visões apocalípticas futuras
sejam no final a realidade que no futuro encontrarei.

A nossa geografia desfez-se para nosso desencanto
de padrão em padrão o mar não é mais nosso
de Camões aos lusíadas não há mais canto
do império que éramos não somos mais que um esboço.

Somos do império restante este pequeno nada
mortalmente encostados ao sul, globalizados
somos apenas marinheiros de palavra acabada
e acabaremos colonizadores escravizados.

domingo, 1 de janeiro de 2012

DIA UM, POEMA TRÊS

SILÊNCIO


Agora que os silêncios se tornam menos solitários
e se ouve ao longe o lento borbulhar das marés
é tempo de rios e ribeiros serem solidários
e desaguarem tumultuosos a nossos pés.

DIA UM, POEMA DOIS

NOITE


que poderei eu ver nesta noite que nos cobre?
que poderei eu sentir debaixo desse negro manto?
a não ser uma pequena luz ténue e pobre
que ao anoitecer me quebra o pranto.

Quando à noite as ruas e vielas escurecem
e o sonho abre oceanos de lembranças
as palavras nascem em mim, amadurecem
e voam pelos céus velozes como lanças.

DIA UM

POEMA PARA SOFIA


Na tua geografia do mar plantaste corais e medusas e anémonas
deste um mar novo a um país de navegações e
no tempo dividido deste o nome às coisas.

Estamos nesta ilha de navegadores e em dia de mar
não sabemos se vamos naufragar.