Temos um Portugal lindo e a maioria dos portuguesos desconhem a beleza e virtualidades das nossas cidades e vilas. Na Sexta-Feira dei comigo no combóio a caminho de Lisboa. Tenho uma exposição marcada para Guimarães e como resolvi ir de combóio pus os pés a caminho de Stª Apolónia para tirar infomações dos preços e horários. A viagem é curta e rápida mas dá ainda para ver os atentados arquitectónicos que se fazem neste país, bem como analisar o comportamento das massas que fazem esta viagem, mas isso fica para depois, agora interessa-me o meu percurso do Rossio até à zona oriental de Lisboa. Desci calmamente a rua da Prata por entre ruas esburacadas e lojas vazias até ao Terreiro do Paço, entaipado por painéis e obras sem fim que nos cortam a visão do Tejo. Volto à esquerda, passo pelas arcadas até ao Café Martinho, entro aqui para beber um café, recordar Pessoa, sentir a poesia. Meia dúzia de turistas consomem o sol na esplanada paredes meias com a rua, desnivelada e trepidante com o passar dos autocarros. Ruído e poluição. Vistas parcas e pouco movimento. Sigo pela rua da Alfândega até à rua Cais de Santarém, passo pelo Campo das Cebolas, autocarros e eléctricos cruzam-se nas ruas sujas e esventradas, olho em redor, vislumbro a Casa dos Bicos em renovação, rodeada de prédios destroçados desgastados pelo tempo, com suas janelas e varandas de ferro, outrora bonitas, hoje retorcidas, corcomidas pelo tempo, que os donos sem piedade e sem dinheiro deixam ao abandono. Há no entanto quem recupere o antigo e dele faça novo e restaure os azulejos portugueses e os ferros e a traça. O ISPA, Instituto de Psicologia é disso um exemplo. Chego à estação da CP, trato dos horários e dos preços e volto para fazer o percurso inverso mas agora junto à margem do rio por onde existem barracões e restaurantes junto ao velho cais da fundição, de fortes recordações para mim pois foi donde parti para a guerra. No entanto, ao olhar o velho Museu Militar resolvi entrar até porque nunca o tinha visitado. O antigo palácio transformado no museu, com os seus tectos ornamentados com frescos do mestre Sousa Lopes e as suas salas decoradas com pinturas de Veloso Salgado, Columbano e José Malhoa entre outros, mostra-nos pedaços dos períodos históricos de Portugal e do mundo, desdes as invasões francesas até às duas guerras mundiais. De lamentar que o espólio da nossa guerra colonial se encontre encerrado em caixas, ao abandono, numa sala fechada. Já sabíamos que os combatentes que honraram a Pátria nas campanhas de África têm sido ignorados, senão maltratados, mas agora que todo o valor histórico que essas guerras nos deram esteja esquecido a um canto, NÃO. Saí com mágoa, mas voltarei para poder saber, junto das entidades oficiais, o porquê desta situação. Voltei pelo mesmo caminho com que fiz a ida, subi calmamente pelas escadas do elevador de Stª Justa e fui almoçar ao Chiado com o João Pedro. Cheguei a casa pelas três e tal da tarde, mas ganhei o dia.