Com a devida vénia transcrevo do jornal Correio da manhã este artigo de opinião de Francisco Moita Flores:
O livro prometido por Gonçalo Amaral esgotou nas primeiras horas. Quem o leu, ou vai ler, perceberá que havia todas as razões para não aceitar como única explicação a informação posta a circular pelas televisões inglesas de que Maddie tinha sido raptada. Se compaginarmos o livro com o relatório final da PJ, percebermos definitivamente que era materialmente impossível ter sido raptada.
O raptor inteligente entrara pela porta e a seguir transformara-se em estúpido saindo com a criança por uma janela entreaberta, que o obrigaria a passar pelas camas das outras crianças que dormiam – e que continuaram a dormir na algazarra da busca. Aliás, se saísse à rua no momento em que as testemunhas dizem que aconteceu, e tendo em conta os depoimentos que prestaram sobre as visitas às crianças, tinha de passar entre o pai, amigos que falavam, que iam e vinham. O livro confirma muito daquilo que aqui escrevemos ao longo de muitas páginas. Os procedimentos técnicos não diferem de caso para caso.
Obedecem a protocolos informais mas tão rotineiros que não é preciso estar lá para se perceber o que está a acontecer. A equipa de Gonçalo Amaral cumpriu-os todos, com excepção de um. Ele é generoso quando assume esse erro, que não foi seu. Ou pelo menos não foi só seu. Gonçalo admite que errou quando tratou o casal, numa primeira fase, com acrescidas cautelas. É um erro e grande. Mas foi ele quem decidiu que fosse assim? Não terá havido por aí um director incapaz, daqueles incompetentes que sobem nas instituições à custa da sua burrice natural e do servilismo, a dar uma ordem dessa natureza? Os medrosos têm em primeiro lugar medo do poder e só depois da morte.
Um caso comunicado pelo governo inglês, com mediação de embaixadores, tem de ter forçosamente um director apagado pelo meio, mediando entre o servilismo a quem manda e o despotismo para quem lhe obedece. Pressinto que na defesa da sua honra, fazendo saltar a verdade que muitos desejam que seja mentira, Gonçalo Amaral não disse tudo. Mesmo ao assumir o erro deu o corpo às balas para defender a sua instituição. Posso estar enganado, mas quem conhece as rotinas da investigação também presume conhecer os mecanismos de subordinação.
Uma palavra final para o sr. Mitchell: o melhor que encontrou para dizer foi que o livro é um pretexto para ganhar dinheiro à custa da menina. Logo ele, cuja vida nos últimos tempos não tem sido outra coisa. Gente que não distingue entre uma libra e o direito à defesa da honra. Vendem-se por qualquer preço. No caso do sr. Mitchell, por bom preço, segundo se diz.
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