sábado, 15 de abril de 2006

A PROPÓSITO DOS SURREALISTAS


Hoje comi batatas com pão frito
um pássaro na minha janela pia
o meu gato com pieira pia
o canário na gaiola sem grades pia
o meu pai grita o jantar é às oito
o que na minha casa é um rito
as cebolas caem do tecto
as lágrimas na frigideira
misturam-se alhos com caralhos
já nada é como dantes
quartel general em Abrantes
o sol penetra na vida
o analfabeto assina de cruz
as aves tossem com gripe
há quem penetre no cozido à portuguesa
outros na fatia de pão rico
Sente-se o bodo aos pobres
nos tachos vazios de massa
mas no bodo aos ricos
a massa enche os tachos
os martelos batem no tijolo e no tribunal
uns dão gritos de dor outros de razão
os lobos uivam
os burros dão coices
a manteiga engrena a farinha
o bolo reparte-se
os carneiros agitam-se
e nesta melancolia
de rios sem sobressaltos
o mar não ruge nem uiva
nem mia
mas a minha casa pia!
A AUSÊNCIA



Foi a 6 de março passado que escrevi o meu último texto. Um mês e oito dias depois retomo a escrita, pedindo desculpa por este interregno, mas os computadores também adoecem e o meu não foge à regra. Só que infelizmente o meu doente caíu no médico errado, teve vários diagnósticos errados e por isso teve também várias recaídas até ser internado e ter de substituir alguns orgãos. Tive sempre o coração nas mãos pois o medo de perder toda a informação que o seu cérebro continha, era enorme. Ainda não está completamente restabelecido mas a sua saúde é já bastante forte e por isso já posso estabelecer contacto com todos aqueles que me visitam.