quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

UM POEMA DE 1976

O País das maravilhas


Ah! este país das maravilhas
Da sopa de favas
Dos guisados de ervilhas
Do pão
Do requeijão
Do branco e do tintol
País das barracas
Das caixas e das baixas
Da tensão
Do colesterol
País adiado sem tempo
País odiado cantado
País louvado
Caído no deixa andar
No não importa no não te rales
Que vive do importar
Dos avales
País sem porta
Das correntes de ar
Dos balões de soro
Dos meninos de coro
Dos professores
Dos Catedráticos
Dos sabedores
Dos doutores
Dos lunáticos
País sem ementa
Sem pão nem mesa
Sem sal nem pimenta
Sem o "dito" à portuguesa
Que a inflação atormenta
País sem amor
Sem flor
Dos castrados e impotentes
Dos males por atalhar
Da dor
Do se calhar
Do talvez do entrementes
País extraviado
Esquecido espezinhado
Do vinho a martelo
Do Whisky marado
País-castelo
Desmoronado
País dormente
Chagado
Envelhecido pelo tempo
Maltratado
Das crianças sem sorriso
Dos velhos sem porvir
Dos campos sem reforma
Da cidade salvação
Do mundo cão
Ah! meu país doente!

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