domingo, 29 de janeiro de 2006

BREVE RESPOSTA A AUGUSTO GIL

No dia em que nevou na Amadora


Batem leve, levemente
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
do casario do caminho.

Quem bate assim levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria,
Há quantos anos a não via!
e que saudades Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho.

Fico olhando esses sinais,
da gente alegre que passa
e noto, por entre os mais
os traços tão naturais
das crianças que a neve abraça.

E os risos floridos,
que a janela me deixa vê-los,
primeiro indefinidos,
depois, em sorrisos compridos,
porque não podiam contê-los.

Que quem a neve já viu,
não goze o momento, enfim!
Mas o sortilégio surgiu,
A criançada emergiu,
ficaram loucos assim!

E uma alegria arrebatadora,
uma profunda emoção,
entra em mim devastadora,
Cai neve n'Amadora
e cai no meu coração!

1 comentário:

Anónimo disse...

Bonito. Eu tive outra perspectiva. Mostro-lhe na Biblioteca. Parabens
um abraço
M.Clara