sexta-feira, 21 de outubro de 2005

PEQUENA FARPA AOS PETROGALESES E GALPEANOS
OU A PRISÃO QUE TEM AS PORTAS ABERTAS



Chove! Estou sentado em frente ao computador (não aquele computador de obrigação, de mapas, programas, listagens) mesmo ao lados dos meus livros ( não os códigos, os impostos , o iva) olhando os meus quadros, depois de uma manhã de trabalho no atelier, preparando a minha próxima exposição. Estou sentado, depois de um almoço, feito de ensopado de borrego, com uma sobremesa de gelado e um café. Tudo a só, tudo em liberdade, esta liberdade que me permite ser o que quero, fazer o que quero, percorrer os caminhos que me dão gozo, falar com quem quero, escolher as palavras, os amigos, de manhã, à tarde, à noite, sem ordens, sem chefes, sem obstruções. Esta liberdade que me permite pensar, escrever, pintar, sem que tenha que obedecer a regras ou alienar a minha vontade.
Chove, mas poderia estar sol ou a nevar e nada me impediria de ir à praia, ao cinema, caminhar nas ruas de Lisboa visitando exposições ou observando apenas o ar de quem apressadamente
tem que chegar a algum lado, de tempo marcado, de coração nas mãos dos outros.
Chove, estou em casa mas poderia estar algures, visitando velhos amigos, antigos colegas, bebendo um café, numa galpescritoria qualquer dizendo au revoir a qualquer momento, saindo depois sem destino certo, apanhando os ventos da liberdade conquistada a 31 de março de 2002. Tantas vezes me dizem que volto amiúde ao local do crime. Pois é, mas esses infelizmente estão lá todos os dias e estão presos e condenados. E agora até aos 65!

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