sábado, 26 de abril de 2008

O VINTE CINCO DE ABRIL E A GUERRA

Com o título "Letras de Guerra da nossa memória" inaugurou-se hoje uma exposição comemorativa, na Biblioteca Municipal da Amadora, com a apresentação de painéis e livros de vários escritores sobre a guerra do ultramar . De entre os escritores que escreveram sobre África e a guerra colonial destaque para Lobo Antunes, Manuel Alegre, Felícia Cabrita e João de Melo. Orgulho-me de estar representado nesta mostra com o meu livro "Éramos todos bons rapazes" e de estar lado a lado com estas figuras de relevo da literatura portuguesa. Um obrigado aqui, para a Cecília Neves e a sua equipa, que pôs de pé esta iniciativa e também um obrigado especial para o Vereador da Cultura da Câmara Municipal da Amadora, Dr. António Moreira, que faz questão de estar sempre presente nestes eventos, dando o seu apoio à causa da cultura e também pelas palavras elogiosas que disse sobre o meu livro.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

POEMA CINQUENTA

Debaixo do meu tecto dormia a esperança
de ser como outrora marinheiro
de ser barco de ser mar
deixar herança
para vingar nesse mundo inteiro

No meu tecto debaixo de mim
acorda esse desencanto
ferida sobre o peito em pranto
folhas caídas perto do fim
histórias dum lusitano canto

POEMA QUARENTA E NOVE

Gota a gota
escorre dos teus lábios
gretados pela ânsia
essa vontade de ser país.

POEMA QUARENTA E OITO

Fomos guerra na primavera
margem de rios e mares que navegámos
fomos corais abrigo de metáforas esquecidas
percorremos o verão de Abril
com palavras arrancadas da alma
memórias turbulentas
reavivadas no tempo
caminhámos pelo Outono
transcendendo essa visão euro cravada
nas nossas costas
e agora neste inverno
já não somos primavera
nem verão tão pouco outono
somos apenas lixo!

JOÃO VILLARET

Estou a escrever e simultaneamente a ouvir João Villaret. Que delícia ouvir "A procissão", o "Cântico negro", o "Fado falado". Que falta faz um homem como este que sabia dizer poesia como ninguém. Há muito que as nossas televisões esqueceram a poesia. Se dizem que o Estado Novo tinha como bandeira o futebol, este Estado velho desfralda ao vento, não uma bandeira futebolística, mas umas centenas de bandeiras, galhardetes e outros enfeites que servem para que o Zé de antanho, coma do mesmo agora. Este é o nosso fado falado, cântico negro da nossa democracia e siga a procissão!

QUARENTA E SETE

Choro sobre as palavras derramadas
no tempo dos vampiros
e eram tão poucos os vampiros
das noites do nosso descontentamento

Madruga-se agora
sob nuvens de abutres
e gaviões
e tardamos a esvoaçar

POEMA QUARENTA E SEIS

O nosso arrozal é um
pântano
onde nos atolamos todos os dias

POEMA QUARENTA E CINCO

Não sei mais nada
a não ser que o pássaro negro
partiu há muito
deixando as árvores
para as novas aves migrantes
de arribação umas
de rapina outras
que fazem ninhos de mel
nas margens da nossa imaginação

Não sei mais nada
a não ser que nesta seara
campo quase milenário
só alguns mordem o trigo
e os outros engolem o joio

sexta-feira, 11 de abril de 2008

KOSOVARES

DRAGÕES

Desse leito de palavras ambíguas
Onde mergulhámos
Saltam dragões que incendeiam
As pontes levadiças
Do nosso castelo desencantado

PALAVRAS MUDAS

Os nossos ventres tocaram-se no decorrer da noite
O meu em gestos inquietos o teu em profunda ausência
E neste jogo de palavras mudas engolimos a madrugada

VENTOS

Se os ventos que trazem as boas novas
soprassem na direcção do meu navio
o mar revolto em mim seria um rio

terça-feira, 1 de abril de 2008

24 - 25 - 26

VIVA ABRIL! Não, não dou vivas ao 24 de Abril, nem a este 25 de 34 anos de idade, muito menos ao 26 que é esta incógnita chamado país. Viva Abril, porque neste Abril em Portugal nasci em 19. Porque é o um mês de Primavera e neste país que não é para velhos é bom chegar à primavera seguinte, mesmo que só chegando, mesmo que só "ir vivendo", mesmo que os nossos brandos costumes adormeçam nas alcovas, dos quartos das casas endividadas, mesmo que "eles" digam que sim e nós digamos que não. Como é lindo Abril, mesmo em Portugal. Apenas tenho uma dúvida, conheço o 24, sei bem o que é o 25 (há muitos que não sabem...) mas ... o 26, com vão eles desatar este 31?

MEDICINA A PEDIDO

Com este título João Miranda publica no blogue "Blasfémias" um oportuníssimo post: " A Ministra da Saúde disse em 29 de Março que a cesariana a pedido da grávida não pode ser implementada no SNS. Argumentou que a cesariana é um acto médico que deve ser decidida por médicos. Garantiu que no SNS não há medicina a pedido. Podia ter acrescentado : a pedido só mesmo o aborto..."

AUTORIDADE NO ENSINO

Aqui se transcrevem frases soltas de um artigo publicado num semanário e que é da autoria de um leitor:
"...voltar a dar crédito aos professores, voltar a obrigar a respeitar os professores - levantarem-se quando o mestre entra na sala, não o interromperem sem pedirem permissão, voltar a institucionalizar a falta de castigo, bem como a suspensão e a expulsão, voltar a haver contínuos ou vigilantes, colocar câmaras de vigilância e como os "meninos" estão mal acostumados, sugiro que se coloquem nos estabelecimentos de ensino elementos das forças especiais - comandos, fuzileiros, para-quedistas, polícia de intervenção e outros - para caso seja necessário darem um valente puxão de orelhas aos mais atrevidos e desobedientes..."

FRASES SOLTAS

"Desde a implantação da chamada Democracia, o Povo foi apenas convocado a decidir em duas questões: uma, a de saber se o enorme território que nos resta, incapaz de ser conduzido a bom porto sob a administração de um só governo central, devia ou não ser fraccionado em diversas regiões, cada qual com o seu governo regional, cujos governantes reportariam ao governo central que, aliviado, podia entregar-se a outras lucubrações. Outra, a de saber se as mulheres poderiam ou não matar os filhos indesejados, nas primeiras dez semanas de gravidez.
Parece assim, que nada mais de importância ocorreu em Portugal, nos tempos chamados democráticos. No entanto, para quem tiver memória, desde então, o país desfez-se de vastas parcelas territoriais que a constituição definia como terras de Portugal e que foram entregues à gula e à ganância das grandes potências, sem qualquer consulta popular. Como de igual modo, sem consulta, o País se viu integrado na então CEE, com todas as sequelas daí decorrentes. Como também sem qualquer consulta, o País abdicou da sua moeda nacional, o velho escudo, para adoptar o euro, com uma base de valia duzentas vezes superior, sem que o poder de compra acompanhasse a disparidade de valores. Como finalmente, o chamado tratado reformador da UE, vulgo, tratado de Lisboa 2007, cedendo às instituições europeias significativas parcelas da soberania portuguesa, entra em vigor sem qualquer consulta popular."

De um artigo de opinião intitulado : "Carta ao Zé Povinho" do advogado Godinho Granada, no jornal"O diabo"