terça-feira, 15 de janeiro de 2008

POEMA QUINZE



MANIFESTO ANTI-S



Não gosto de ésses.Basta de ésses!
Abaixo os ésses, a dinastia dos ésses, a pluralidade dos ésses
dos de sá, que me lembra o pinto e o pinto que me lembra costa
e o mar que me salga, que destila sal, que vai à sala e
por azar também é sa, de sal, de Salazar
e do ar, que nos deu, inquinado ou não, conforme a opinião
ar de mar, de maresia, de opinar, de cortar o pensamento e degredar.
Não gosto de ésses
abaixo a monarquia dos ésses!
Abaixo os reis, abaixo o S de Sebastião, mas abaixo o nosso reizinho, não!
Abaixo o se de bastião, não gosto de bastiões, nem sequer envoltos em nevoeiro
que os ésses podem voltarem em manhãs de escuridão
mas às vezes, porque não, servir um certo abanão
à mesa dos comilões.
Não gosto do S de salmão, mas gosto de salmão, posso tirar-lhe o S e gritar p'rá cozinha:
sai um prato de almão, mas nós não temos almão
temos apenas alminha, tão débil, tão quebradiça
que nem a hóstea da missa, servida em taças de prata
nos equilibra a balança, e o mundo pula e avança como bola colorida
e não nos enche a pança, não nos sara a ferida
aberta por esses ses da nossa peregrinação.
Basta de ésses!
O ésse é de servil!
o ésse é de sorumbático!
o ésse é de salsada!
o ésse é de salafrário!
o ésse não pode morrer solteiro!
Eu não gosto dos ésses, abaixo os ésses de saloíce, do seguidismo, dos salamaleques
mas eu gosto da Ofia Mello Breyner, mas não gosto do Sousa, o Tavares
mas eu gosto da Ofia Loren, do José Aramago, só não gosto dos ésses.
O ésse vem no fim do abecedário, gosta de plurais, eu sou mais singular, sou mais um por todos
mesmo que um Benfica em mó de baixo
não gosto do ésse no todos por um, porque me cheira a todos por um tacho
não gosto do ésse de Sporting
não gosto do ésse da Sportv
não gosto das tv's que nos servem
não gostos dos salários que nos servem.
Abaixo os ésses e os ses!
Não gosto do S no início da palavra, não gosto do S no fim da palavra
Não gosto de Sócrates, o antigo, porque tem dois ésses
não gosto de Sócrates, o moderno, porque não gosto que me socratizem
porque tem dois ésses, porque de só, só gosto do António Nobre.
Abaixo o S
abaixo o so de solidão, de sofismas, de sofrimento
abaixo os ésses de safardanas, de sacripantas, de sidosos
porque o S é de sacana, de senil, é de senhor doutor
porque é também serpenteante, tem curvas, contra-curvas, ravinas
percorre o sul, o sotavento. É o princípio dos sismos, acaba em tempestades
temos que abolir o S do nosso vocabulário, já!
Para que precisamos do S em S. Bento? e a segurança social é melhor com dois ésses?
e a saúde com S?
Não aos S, aos SS, aos sistemas, aos esquemas
aos emblemas.
Abaixo o S! Abaixo o sa, o sal, o sala, o Salazar
Abaixo o só, o sozinho, o sozista, o Sócrates, os socráticos e os socreteiros!
Porque o António era um homem só, porque quem mandava era um homem só, porque isolados éramos um país só, em redoma periclitante.
porque não gosto de gente arrogante, nem de gente mareante, que navega
em naus douradas, enquanto a nossa pesca se afunda.
Basta de ésses.
Fora com os ésses de mentirosos
fora com os ésses de sabichões, de licenciados até ver, de doutores
de contadores de histórias, de aldrabões.
Fora com o sopro dourado dos apitos, com o sopro estrangulado da casa pia.
A verdade não tem ésse! a justiça não tem ésse!
Que os ésses sejam julgados no Rossio.
Fora com os ésses de senadores
abaixo as comissões, as assembleias, os colóquios
abaixo os ilusionistas, os malabaristas
Portugal não tem ésse
o povo não tem ésse
mas Sócrates tem
fora com os pinóquios, já!

1 comentário:

Anónimo disse...

fabuloso
M.Clara