segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

SEIXAL

Nasci ali, numa casa entre a rua de cima e a rua principal, no Bairro Novo, ponto mais alto desta cidade ribeirinha, margem do rio Jordão, afluente do Tejo. Nasci ali na então vila de pescadores e corticeiros, entre duas ruas e duas fábricas de cortiça, refúgio e sustento das mãos operárias que moldavam as pranchas virgens da cortiça do Alentejo que chegavam em camiões ronceiros muitas das vezes guiados pelo velho Hildefonso e que chegavam adornados pelo peso da carga. As duas ruas, paralelas, desciam até à vila e encontravam-se com o rio, vislumbrando Lisboa ao fundo. O rio de então, era para mim um mar, que atravessaria mais tarde, centenas de vezes, rumo a essa Lisboa, no velho sul-expresso, barco instável e destemido que navegava marés e nevoeiros. Até lá, bordejava o Jordão até à velha escola primária e mais tarde até ao Barreiro, vizinho de agruras e misérias, e onde se chegava pelos velhos combóios a vapor da CP, atravessando a velha ponte de ferro. A vila vivia emparedada pelo rio e pelas diversas quintas que faziam o perímetro do concelho.
Hoje, a cidade do Seixal, modernizou-se, rompeu as barreiras desse espartilho, as fábricas desapareceram, as quintas lotearam-se e o betão cresceu. As novas ruas cruzaram o concelho, alargaram-se e alindaram-se. As escolas surgiram, o Tribunal ergueu-se, o combóio desapareceu mas no seu lugar nasceu uma nova estação fluvial. Surgiram os novos andares, as vivendas, os condomínios e até o Glorioso montou arraiais na Quinta de Trindade, com o seu Caixa Campus.
Mas nem tudo são rosas, a par do combóio que deixou de existir, foram-se as fábricas e até a Siderurgia Nacional se apagou. A cidade não tem um cinema e o clube da terra eclipsou-se. Ainda assim a cidade tem alguma vida cultural e projecta-se na agenda da Câmara Municipal, com o festival de Jazz e as exposições. Seixal, cidade margem do Tejo, com a sua baía voltada a Lisboa, tem hoje uma projecção maior muito por via desse monstro do desporto nacional que é o Sport Lisboa e benfica.

1 comentário:

Anónimo disse...

Seixal lembra-me a nespereira, a entrada estreita entre duas paredes, o barulho do eco quando se batia com os pés no chão, os gatos no quintal e os pasteís de massa tenra.

Rita