quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

POEMA VINTE E NOVE




Era neste jardim que à beira mar plantávamos
as palavras agitadas que semearam o futuro
Mas os ventos as marés as ondas
foram cataventos que destruiram as mondas
e nos catapultaram para o obscuro
POEMA VINTE E OITO




Juntávamo-nos aos sábados de tarde ao rufar do tambor
aprendendo canções, fazendo jogos, no areal do campo da bola.
À noite na soleira da porta aprendíamos as artes do amor
contadas pelos mais velhos. E sob o olhar das estrelas
sonhávamos com as meninas donzelas
que nos entonteciam nos intervalos da escola.
POEMA VINTE E SETE




Tenho memória de mim de família de pátria
reminiscências dum passado breve
pintalgado em tons de escuro
Poema de palavras diluídas neste presente
agitado por outros versos nesta liberdade
que nos cauciona o futuro
ANDAM À SOLTA



Hoje, na vila de Azambuja, andaram dois tigres à solta. Fugiram da jaula, embrenharam-se nas quintas próximas, mas foram perseguidos por dezenas de agentes da autoridade, capturados e presos novamente nas suas celas. Neste país de fábulas, andam à solta uns quantos passarões, camuflados com as penas com que nos depenam, e voam livremente e impunemente soltando o seu piar: corrupto...corrupto...corrupto.

domingo, 27 de janeiro de 2008

POEMA VINTE E SEIS




Há duas realidades nas margens do Guadiana
numa, cresce um novo país, floresce o sonho
noutra, cultiva-se o desencanto
sobrevive um povo apático e tristonho.
POEMA VINTE E CINCO




Restaurámos os sonhos nesse mítico 1640
ano de glória, marco heróico e difícil parto
Hoje, pende sobre a nossa cabeça
esse espectro dum Filipe Quarto!

sábado, 26 de janeiro de 2008

ARTE



"A arte é um fenómeno de intimidade"

definição do pintor Fernando Lanhas num artigo do Jornal de Notícias

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

POEMA VINTE E QUATRO




Fui português aqui
Não sou português agora!
POEMA VINTE E TRÊS






Se eu por fome roubar um pão
e não pagar por não ter dinheiro
sou logo apelidado de ladrão
e vou direitinho p'ró galinheiro.

Mas se o administrador dum banco
perdoar dívidas de qualquer maneira
não é mais que um "espirito santo"
que fez uma operação financeira.

Podem até fazer muito melhor
estes nossos queridos manganões
poem o dinheiro em off-shore
e depois compram acções.

É assim neste país de iluminados
que acusa o zé povo de ladrão
torna os ladrões em ilibados
e não os manda para a prisão.
POEMA VINTE E DOIS




Já não somos fronteira.
Nem raia, nem mar param o caudal
que transvaza do pote da precaridade.
Somos as praias onde desembarcam
à descoberta de novos brasis
os descendentes de Cabral.
Mas não vieram os reis
nem o clero, nem os nobres
apenas chega a tropa fandanga
Sertão de pobres
baía de vulgaridade
E nós não sendo já fronteira
sonhamos com D.Pedro
e o seu grito do Ipiranga.
POEMA VINTE E UM




Para eliminar breve a perversa conjura
chamou-se um dia Sebastião José
vão longe os tempos mas a imagem perdura
nos dias que correm para não perdermos a fé.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

POEMA VINTE




Em meu redor há este enorme vazio
palco de um país que morreu em mim
não há sonho que inunde este rio
não há poema que floresça este jardim

sábado, 19 de janeiro de 2008

POEMA DEZANOVE




Portugal podia ser um poema
cantado à mesa duma grande sala
neste banquete dito Europa
Somos neste estratagema
que é esta enorme gala
uns meros servidores de copa.
POEMA DEZOITO



Que volte D. Afonso Henriques, D. Sancho,
D. Fernando ou D. Duarte...
Que em D.Dinis ou D.João estejamos a pensar...
Que recordemos D.Sebastião...
Tudo bem.
Mas por manha ou arte
Ter-mos Sócrates a fazer de Salazar
A salvar a Pátria Mãe
Não!
POEMA DEZASSETE



Durante anos fomos amantes, infiéis corpos em brando leito derramados
os teus rios eram lágrimas que escorriam pelas montanhas dos teus seios
bordejando as margens do teu corpo e desaguando no delta do teu ventre
Durante anos guardámos as palavras que ciciávamos ao teu ouvido
para que mais tarde pudéssemos engravidar o tempo
mas tu esqueceste-te das promessas envolvida que foste por essa serpente
que te enleou o corpo e da árvore te estendeu o pecado
Em brando leito somos sobressaltados pelo apodrecer da maçã

não somos mais amantes mitigamos a fome com pedaços de esperança
esperando firmes que os brandos ventos se diluam
e nasça em cada vontade a lança
que legitime o sonho do amanhã

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

SABIA QUE...




...O administrador português ganha em média, 32 vezes mais do que o trabalhador que gere?

...Belmiro de Azevedo ganha 48 vezes mais que um trabalhador da Sonae?

...Filipe Pinhal do BCP ganha 67 vezes mais que um colaborador do banco?

...Pedro Queiroz Pereira da Semapa ganha 219 vezes mais do que um funcionário da empresa que gere?

Em Espanha um administrador ganha 15 vezes mais e no Reino Unido apenas 14 vezes mais.

É fartar vilanagem!
SISTEMA DE ENSINO É FÁBRICA DE ANALFABETOS




D. António Marcelino: Quem ouve professores a falar com confiança, vê cansaço, desânimo, desilusão, desinteresse e com professores neste estado de alma, os melhores manuais pouco valem.

General Carlos Azevedo: infelizmente a nossa educação está arredia e ausente de algo fundamental, os miúdos saem da instrução primária sem saber falar português - o que é o sujeito, o predicado, o complemento directo.


Silva Resende: a escola tem-se tornado numa fábrica de ignorantes, porque os alunos não sabem o essencial.



Profª Maria do Carmo Vieira: quando é o próprio Ministério a propor a despenalização dos erros ortográficos e a substituir em provas de aferição, textos de qualidade literária por receitas culinárias, estamos perante a demissão da Escola.

MEDALHA DE OURO


Portugal, recordista europeu de salários de luxo!


POEMA DEZASSEIS




Que recordações tenho eu de antanho
Quando as bombas caíam e a fome grassava?
Eu era pequenino, o mundo tamanho
A minha guerra era outra, comia e calava.

Que recordações tenho eu da savana
Que destroçou a juventude desamparada?
Eu era menino de pensamento e gana
Não queria ser homem de voz calada.

Que recordações tenho eu de Abril
Maré tempestade de palavra gritada?
Eu era menino e já pressentia o ardil
Dessa liberdade de boca embargada.

Que recordações tenho eu da Europa
Comunidade não por mim alargada
E que quer gerir o meu destino?

Não quero ser moeda de troca
Não vivo mais de boca fechada
Sou homem, não sou mais menino!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

UM JORNAL DOS DIABOS




Perdi o hábito de comprar jornais. De vez em quando vejo os escaparates e leio os títulos de meia dúzia de periódicos. Confesso que não me seduzem. Não gosto que me atirem poeira para os olhos, pois sou muito atreito a conjuntivites. No entanto, um amigo, emprestou-me um jornal para eu ler UM artigo. Mas surpresa, li todos! Passo, por isso, a transcrever algumas tiradas, das crónicas que li.
"O estado está ao serviço de interesses e não ao serviço de valores" Prof. José Hermano Saraiva
"A decadência à portuguesa" Alberto João Jardim
"É preciso tratar da saúde ao senhor ministro" Gentil Martins,José Manuel Silva e Miguel Leão
" Plano tecnológico: entre o bluff e a propaganda" Ana Clara
"Aprovará Cavaco as borradas de Sócrates?" Alfredo Farinha
e entre outros artigos o comentário de vários analistas ao título " o país insatisfeito de Cavaco ou o país cor-de-rosa de Sócrates?"
Acho que vale a pena ler estes artigos que o Jornal "O Diabo" publica, embora reconhecendo que este jornal tinha um lado direitista, não sei se todos os autores o terão, mas que há lá verdades a relembrar, isso há.
POEMA QUINZE



MANIFESTO ANTI-S



Não gosto de ésses.Basta de ésses!
Abaixo os ésses, a dinastia dos ésses, a pluralidade dos ésses
dos de sá, que me lembra o pinto e o pinto que me lembra costa
e o mar que me salga, que destila sal, que vai à sala e
por azar também é sa, de sal, de Salazar
e do ar, que nos deu, inquinado ou não, conforme a opinião
ar de mar, de maresia, de opinar, de cortar o pensamento e degredar.
Não gosto de ésses
abaixo a monarquia dos ésses!
Abaixo os reis, abaixo o S de Sebastião, mas abaixo o nosso reizinho, não!
Abaixo o se de bastião, não gosto de bastiões, nem sequer envoltos em nevoeiro
que os ésses podem voltarem em manhãs de escuridão
mas às vezes, porque não, servir um certo abanão
à mesa dos comilões.
Não gosto do S de salmão, mas gosto de salmão, posso tirar-lhe o S e gritar p'rá cozinha:
sai um prato de almão, mas nós não temos almão
temos apenas alminha, tão débil, tão quebradiça
que nem a hóstea da missa, servida em taças de prata
nos equilibra a balança, e o mundo pula e avança como bola colorida
e não nos enche a pança, não nos sara a ferida
aberta por esses ses da nossa peregrinação.
Basta de ésses!
O ésse é de servil!
o ésse é de sorumbático!
o ésse é de salsada!
o ésse é de salafrário!
o ésse não pode morrer solteiro!
Eu não gosto dos ésses, abaixo os ésses de saloíce, do seguidismo, dos salamaleques
mas eu gosto da Ofia Mello Breyner, mas não gosto do Sousa, o Tavares
mas eu gosto da Ofia Loren, do José Aramago, só não gosto dos ésses.
O ésse vem no fim do abecedário, gosta de plurais, eu sou mais singular, sou mais um por todos
mesmo que um Benfica em mó de baixo
não gosto do ésse no todos por um, porque me cheira a todos por um tacho
não gosto do ésse de Sporting
não gosto do ésse da Sportv
não gosto das tv's que nos servem
não gostos dos salários que nos servem.
Abaixo os ésses e os ses!
Não gosto do S no início da palavra, não gosto do S no fim da palavra
Não gosto de Sócrates, o antigo, porque tem dois ésses
não gosto de Sócrates, o moderno, porque não gosto que me socratizem
porque tem dois ésses, porque de só, só gosto do António Nobre.
Abaixo o S
abaixo o so de solidão, de sofismas, de sofrimento
abaixo os ésses de safardanas, de sacripantas, de sidosos
porque o S é de sacana, de senil, é de senhor doutor
porque é também serpenteante, tem curvas, contra-curvas, ravinas
percorre o sul, o sotavento. É o princípio dos sismos, acaba em tempestades
temos que abolir o S do nosso vocabulário, já!
Para que precisamos do S em S. Bento? e a segurança social é melhor com dois ésses?
e a saúde com S?
Não aos S, aos SS, aos sistemas, aos esquemas
aos emblemas.
Abaixo o S! Abaixo o sa, o sal, o sala, o Salazar
Abaixo o só, o sozinho, o sozista, o Sócrates, os socráticos e os socreteiros!
Porque o António era um homem só, porque quem mandava era um homem só, porque isolados éramos um país só, em redoma periclitante.
porque não gosto de gente arrogante, nem de gente mareante, que navega
em naus douradas, enquanto a nossa pesca se afunda.
Basta de ésses.
Fora com os ésses de mentirosos
fora com os ésses de sabichões, de licenciados até ver, de doutores
de contadores de histórias, de aldrabões.
Fora com o sopro dourado dos apitos, com o sopro estrangulado da casa pia.
A verdade não tem ésse! a justiça não tem ésse!
Que os ésses sejam julgados no Rossio.
Fora com os ésses de senadores
abaixo as comissões, as assembleias, os colóquios
abaixo os ilusionistas, os malabaristas
Portugal não tem ésse
o povo não tem ésse
mas Sócrates tem
fora com os pinóquios, já!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

POEMA CATORZE



Dentro de nós ainda mora aquela arte de navegar
em mares tumultuosos e arribar a bom porto
POEMA TREZE




Quantas vezes as tempestades
irromperam nos castelos das nossas naus
varrendo o convés da proa à ré
Adamastores em fúria tentando derrubar a marinhagem
e os homens aguentavam as ondas desciam as velas
expulsavam as marés
e ressurgiam na crista dos oceanos vitoriosos

Quantas vezes as intempéries
percorrem hoje os frágeis fios que tecem
as velas do nosso descontentamento
são vampiros disfarçados de adamastores
que tentam afundar as nossas caravelas
neste oceano de desigualdades
POEMA DOZE




Amassamos o trigo que não temos
mas não queremos comer o pão que o diabo amassou.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

POEMA ONZE




não sei se teria espelho na altura, nem sequer, se o tivesse,
pudesse chegar a ele e ver a minha imagem refletida.
Como seria o meu sorriso olhando os meus caracóis loiros
que contemplo agora nesta fotografia a preto e branco corroída pela tempo.
Como seria o meu olhar, azul como o azul do rio que inundava as minhas brincadeiras,
quando a desgraça calava a vontade e desmoronava os sonhos.
Como seria o meu andar, quando o corpos inquinados de inquietudes
zarpavam mar adentro.
era menino eu sei, e não sabia nada.
Apenas ouvia a voz calada dos trabalhadores no bulício das tabernas
apenas sentia o tom agreste da miséria, gritada pelos homens
no silêncio da noite.
Era menino e nada sabia, e menino bebi palavras novas que mal podíamos soltar ao vento
eram palavras encarceradas, escondidas nas entrelinhas, dos livros passados de mão-em-mão
eram pássaros que esvoaçavam na primavera da minha vida.
Era menino e de nada sabendo, fui aprendendo.
Fui menino berço, menino escola, menino guerra.
Hoje, tenho espelho, mas tenho vergonha de me olhar nele
O meu olhar continua azul mas o rio onde me revejo não tem cor
o meu andar, é firme,mas o solo que eu piso é movediço
e os corpos mutilados, prenhes de promessas continuam a zarpar mar fora
e hoje eu sei tudo, nós sabemos tudo, mas engolimos o tom agreste da miséria
no bulício dos centros comerciais.
Não há hoje palavras escondidas nas entrelinhas, mas no silêncio das nossas noites agitadas
ainda há palavras encarceradas.
POEMA DEZ



não sei se foste anjo ou demónio
sei apenas
que o teu nome é António
POEMA NOVE




Somos um país a planar
à espera de um aeroporto para aterrar!
PINÓQUIOS




Somos um país de pinóquios, onde o primeiro frequentemente, mente, mente.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

POEMA OITO




Nasci ontem no fim duma catástrofe e no renascer duma nova era
era um menino que corria descalço sobre os picos da liberdade
mastigava o pão escuro das palavras que se adivinhavam turbulentas
bebia ávido o labirinto dos pensamentos.
Era um menino e já perscrutava a savana engolindo medos
tecendo desencontros, disparando vida.

Nasci ontem, outra vez em Abril, na aurora doutro destino
correndo calçado no tapete da liberdade
mastigando o sonho, largando ao vento palavras novas
bebendo esse néctar das promessas
continuando desesperadamente menino.

Nasci ontem sem ser rapaz, sem ser homem
continuo a ser menino, sem tempo, que o tempo o devorei
vorazmente, nessa bandeja de palavras gastas
com sabor a sonhos envelhecidos.

Gostaria de dizer que nasci hoje, mas já não há Abril que me prenhe
e se nascesse, seria outra vez menino
porque o meu país não cresceu.
POEMA SETE



Não tenho tempo nem época
essa ampulheta da vida esvaziou-se nesse deserto
que construí em dias contados
e se misturou nesses grãos de areia que teimam
em emperrar a engrenagem

E se a maresia me trouxe uma miragem
foram apenas imagens de um rio
que nunca chegou a ser mar
e se transformou em tempestades
que me delimitaram a viagem
FÁBULAS



Somos um país de fábulas, onde os animais até falam.

domingo, 6 de janeiro de 2008

POEMA SEIS




Caminhei por entre os vazios de Dezembro
moribundo de ideias
toldado pelas nuvens da hipocrisia
corri pelo tempo vertiginosamente sem pausas
mastigando essa ausência
do passado regorgito esse sonho castrador
de encontar a magia
do presente redefino as causas
e doravante dia por dia
tentarei decifrar o enigma do amor.
POEMA CINCO




Não é um poema que escrevo, é a vida.
Não são as palavras que dito, é o poema.
Não é o passado que sinto, é o país.
Não é o presente que vivo, é o futuro.
Palavra, poema, país
Vida, raíz profunda
Oh intransponível muro.

sábado, 5 de janeiro de 2008

O LIVRO TEMPO PER VERSO 3



Confesso que tive medo! Eram três da tarde e caminhei em passos apressados, fugindo à chuva, para a Galeria Artur Bual na Câmara Municipal da Amadora, onde estava previsto se realizar pelas 16 horas o lançamento do livro "Tempo per verso 3" da nossa tertúlia poética. E tive medo porque à chegada só encontrei os quatro elementos dos U'Tópicos, os jograis que iam dizer a nossa poesia, a Cecília Neves, responsável da Biblioteca Municipal, e mais dois ou três elementos da Tertúlia. Tive medo porque o evento já tinha sido marcado para outra data e desmarcado porque não tínhamos ainda o livro; porque os convites foram em cima da hora; porque com uma tarde chuvosa e as festas natalícias ainda frescas, as pessoas podiam não comparecer. Esta dúvida continuou tempo fora, mas perto da hora marcada, de repente, a sala começou a encher-se e foi necessário até recorrer a mais cadeiras para poder sentar toda a gente. Suspirei de alívio, eu e a Cecília Neves, pois para quem realiza o evento e para quem lança o livro é sempre penalizante ter uma casa vazia. Mas não, a sala encheu-se, (mais de cem pessoas) falou quem tinha de falar, disse poesia quem sabe do métier, e ficámos todos orgulhosos de ter realizado uma bonita sessão de poesia. Para a história deste nosso terceiro livro aqui ficam as palavras que, por motivos vários tive que dizer:


Boa tarde, agradeço a todos a vossa presença, e queria para começar, citar uma frase de José Carlos Ary dos Santos, retirada da canção "A desfolhada" interpretada pela Simone de Oliveira, " Quem faz um filho fá-lo por gosto". Ora este filho que aqui temos foi feito com muito carinho por este grupo de pais-avós que não desistem destes actos de amor. Mas foi uma gravidez dificil, num país onde se fecham maternidades e tudo se torna mais caro, não tivemos outra alternativa senão fazer nascer esta criança no outro lado da fronteira, em Espanha. Mas como diz o ditado "de Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos" e neste caso, "nem bons ventos, nem bons nascimentos". Foi um parto dificil, com todas estas tecnologias modernas , passámos o tempo em telefonemas, em email's, em mensagens e o baptizado marcado para 15 de Dezembro, com tudo pronto e convites enviados. por questões técnicas o livro só chegou 3 dias depois da data. Foi um parto tirado a ferros , e como tal, deixou sequelas, pequenas é certo e por isso pedidos desculpas a todos. Este livro foi um trabalho de um ano de reuniões na Biblioteca Municipal e no restaurante "O Fernando", em que se tinha de fazer poesia subordinada a tema, mas no entanto penso que faltou um tema: "o imprevisto" não só pelo que se passou anteriormente mas também pelo telefonema que recebi ontem à noite onde me foi dito que "os padrinhos" que deviam de estar aqui no meu lugar a falar, estavam doentes e não podiam comparecer. Assim, fiquei com a criança nos braços, mas o baptizado vai continuar e por isso passo a palavra ao Manuel Diogo, que dirá algumas palavras e poesia também. Obrigado.
POEMA QUATRO




Um país não pode ser um manjar
para uma alcateia de lobos esfomeados
que se degladiam à beira da bandeja.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

POEMA TRÊS



Esta janela entreaberta que nos dão para espreitar
não é mais que uma sacada forrada de tijolo e argamassa
parede estanque que cerceia o olhar.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

PAI NATAL DOIS




Está ali naquela esquina, daquela rua ou noutra rua qualquer, é magro, esquelético, andrajoso. Na cabeça tráz um gorro vermelho com borla branca, na mão direita dois jornais enrolados e na esquerda um pacote de Teobar, tinto, para dar cor. Durante o dia acena aos automobilistas, ajeita-lhes os carros, "troce, troce" e já está e torce pela moedinha que a veia tarda em recompensa. Distribui sorrisos, ó chefe, ó chefe: muito agardecido; distribui palavrões a quem se nega. À noite corre à Cova da Moura ou ao bairro de Santa Filomena e derrete a colecta. A vida deste pai natal é uma droga!
PAI NATAL UM




Figura típica neste país, veste Armani, viaja em mercedes último modelo, não sorri e é arrogante.
É administrador ou gestor em várias empresas e distribui desemprego aos mais necessitados. Para os familiares e amigos não é parco e atribui mais-valias, subsidios e cartões de crédito com largura de mãos. Às vezes vai para os governos, outras vezes sai dos governos e governa-se. Não é governador, não é doutor e às vezes até nem é licenciado mas que diabo para ser pai natal é preciso é ter amigos.
POEMA DOIS




Naquela heróica e leda madrugada
em que nos libertámos dos demónios
e esventrámos os algozes
e escorraçámos os vampiros
nunca sonhámos
que seríamos um país de nada.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

UM POEMA POR DIA E NÃO SÓ




É este o meu desafio para este ano. Sentar-me aqui em frente do computador e escrever um poema, um pensamento ou uma frase por dia. Serei capaz? vontade não me falta, o pior é se a inspiração não aparece...


POEMA UM


Somos um país de marinheiros,
galgámos marés, ventos, controvérsias
navegámos em naus e caravelas
circundámos oceanos
amainámos iras e tempestades
destronámos tiranos
presenteámos reis e princesas
conquistámos reinos
ouro canela marfim
à sombra do nosso padrão.


Fomos descobridores
de mares e terras sem fim
fomos poetas cantámos amores
aportámos ao desconhecido
ganhámos um império
engolimos adamastores.



E hoje neste mar europa encapelado
naufragamos as naus
e as caravelas
destroçamos os mastros
enrolamos o cordame e as velas
inunda-se o porão
afunda-se a armada
somos um país em vão
somos um país em vão de escada.
JORGE PALMA




Foi o cantor que marcou os últimos meses de 2007, lançando um novo trabalho, do qual destaco a canção "Encosta-te a mim". Não sou grande fã de Jorge Palma, por vários motivos, mas reconheço a qualidade de algumas das suas músicas. Mas não posso deixar passar em claro este "Encosta-te a mim", especialmente quando ele diz "... chegado da guerra..." pois eu aqui interrogo-me e ouso perguntar : de que guerra é que chegaste Jorge Palma?
ANO NOVO DE 2008?



Ano novo, vida nova, país velho. Creio que é tempo de fazer um inventário do passado, activar o presente, programar o futuro. Mas não sei se seremos capazes. Este país é uma equação onde cabem (espertos ao quadrado vezes n "doutores" em titulo)+( x oportunistas incompetentes + y politicotes de encomenda) x ( subsidios + tachos + compadrios + corrupção + gabinetes + assessores + carros último modelo + cartões de crédito + prepotência) : ( x brandos costumes + n ignorantes + desemprego + inflação + impostos) = - 0. Seremos capazes de alterar este resultado? Claro, se eliminarmos a parcela dos brandos costumes.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

FELIZ NATAL



Parei a 7 de Dezembro. A poucos dias do Natal outras preocupações se manifestaram, embora o Natal tenha hoje outras motivações (erradamente) as correrias para as compras são uma loucura. O tempo passou e nem dei por isso, as mensagens e os emails foram muitos e nem sequer me lembrei que tinha o dever de desejar umas boas festas aqui no blogue. Ainda estamos a tempo e no tempo das festas aqui fica o meu desejo de um tempo novo, com felicidade e amor, com muita cor e poesia, com muitos projectos realizáveis, com sonhos das cores que a melhor paleta pode dar, com a vertigem duma vida nova para este ano de 2008 e para todos os outros que se seguirão.
Bem Hajam!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

CURSO DE POESIA



Terminou hoje o curso de poesia que o El Corte Inglés patrocinou. Foram 10 sessões informais nas quais o orientador do curso, José Fanha, dialogou com os presentes, no seu jeito peculiar, contou histórias, disse poesia como só ele sabe. Poemas e poetas galgaram as barreiras da nossa timidez, a poesia ganhou vida e voou no nosso imaginário. Fica no ar esta sensação de saber a pouco, mas fica a satisfação de termos conhecido novos interesses, novos poetas e um sem número de amantes da poesia com quem, de futuro, poderemos trocar experiências neste laboratório de palavras que é a poesia. Finalmente, um aplauso para os meus colegas de curso, que no fim aplaudiram o meu poema "O país das maravilhas 3" dito pelo José Fanha com a maestria que se lhe reconhece. Espero que no jantar de Janeiro possa ele dizer com tamanho brilho o "País das maravilhas 1" e o "País das maravilhas 2". Até lá.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

COLECTIVA DE ARTES PLÁSTICAS





A Galeria Artur Bual, na Amadora, organizou uma exposição colectiva de pintura com o título "Os Amantes do Chiado/Brasileira I" que abriu em 15 de Novembro e encerra a 9 de Dezembro de 2007. Esta exposição recria o ambiente do café "A Brasileira" onde durante dezenas de anos se juntaram poetas, pintores, jornalistas, escritores, que diariamente possibilitavam discussões, divergências e entendimentos entre várias camadas da intelectualidade da cidade de Lisboa. Esta exposição conta com obras de vários artistas plásticos portugueses que privaram "A Basileira". Vale a pena ver Almada negreiros, Cruzeiro Seixas, Artur Bual, Gargaleiro entre outros.
OS SOCRESTEIROS



Andam aí alguns, que socrasticamente nos socrestam porque são uns grandes socresteiros.

Não percebem? bem, eu traduzo: andam aí alguns, que segundo o sistema ou processos de Sócrates, nos sugam o suco porque são uns grandes comilões.

(Grande dicionário da língua portuguesa de Cândido de Figueiredo)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

DIÁRIO MEU



Diário meu, diz-me, que país é pior que o meu?
MAIS UMA MEDALHA DE OURO



Somos o pior país da zona euro, no que respeita a matemática, ciências e leitura, em jovens de 15 anos.
TEMPOS



Em tempo de reis
tempo de cortes

em tempo socialista
tempo de cortes.
PORTUGAL



Fomos celtas, suevos, iberos
godos, visigodos, lusitanos
lutámos em campo aberto
contra vândalos, árabes, alanos
fizemos esperas
vencemos mouros, cartagineses
espanhóis e romanos
hoje somos apenas Portugal e beras.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

UM DIA NA VIDA DE UM REFORMADO




Oiço tantas vezes dizer que a vida de reformado é uma maravilha, que não se faz nada, é só descanso. Pura ilusão! Ontem fiz uma pequena agenda para o dia de hoje onde anotei cinco pontos que teria que ter em conta:

1 - pelas dez horas da manhã ir ao dentista
2 - a seguir visitar os colegas da Petrogal e fazer o euromilhões
3 - correr aos ctt e levantar uma carta
4 - comprar uns sapatos ténis para a cara-metade
5 - ir ao fim da tarde ao Corte Inglés para a aula de poesia


Seria um dia bem preenchido com coisas boas se...
...pela manhã não tivesse uma pequena altercação com o João Pedro, coisas de pais e filhos, se...
...o dentista tivesse aparecido, se...
...os colegas da Petrogal não tivessem uma acção de formação e se não tivessem ausentado, se...
...a carta dos ctt não fosse uma multa de trânsito, se...
...não me tivesse esquecido de comprar os sapatos, mas...
... para compensar isto tudo a aula de poesia teve a leitura de poemas meus, do livro "Este mar que arde" ditos pelo José Fanha. Um dia cheio de precalços mas preenchido de manhã à noite.


quinta-feira, 29 de novembro de 2007

AEROPORTOS, E PORQUE NÃO?




Há quem queira só a Portela. O Governo (e não só) quer a Ota. O sr. Vanzeler manda fazer estudos para Alcochete. Outros clamam Portela mais um. A Associação Comercial do Porto e a Universidade Católica apontam para Portela mais Montijo. Além da A.I.P. (Associação dos Inválidos da Porcalhota) cujo estudo aponta para um só aeroporto entre a Damaia e a Porcalhota, também eu mandei fazer um estudo à M.E.R.D.A. (Movimento Ecológico e Radiográfico Dos Aeroportos) e cujos resultados dão como melhor opção, um aeroporto na Portela, outro na Ota, outro no Montijo, outro ainda em Alcochete e finalmente outro, em túnel, debaixo do rio Tejo com vistas para o mar da palha. Estará assim resolvido o problema do tráfego aéreo, sendo que, para complementar a interligação entre todos estes locais, implementar-se-á uma rede de TGV em túnel até aos Açores e à Madeira, passando pelas Canárias até Madrid. Assim, aquele objectivo dos 150.000 empregos a criar, será completamente ultrapassado, pois para tais empreendimentos serão necessários pelos menos 300.000 novos imigrantes, o que dará o novo impulso ao Bairro de Santa Filomena, à Cova da Moura e ao bairro 6 de Maio. A segurança social terá novos contribuintes, o Ministério das Finanças poderá aumentar o iva da fuba, da mandioca e das extensões para o cabelo e o Estrela da Amadora poderá exportar para o Manchester United novos Nanis, Miguéis e outros artistas da bola. Este país é um paraíso.
APOIANTES



Os apoiantes de Péron, são peronistas; os apoiantes de Salazar, são salazaristas; os habitantes do Magrebe, são magrebinos; os que adoram Bizâncio são bizantinos; os que apoiam Sócrates são sócretinos!
PARAÍSO




Triplicaram os crimes sexuais. No problem. A segurança na noite é frágil. No problem. Aumentam os assaltos nas ruas. No problem. Apenas 27% dos detidos por problemas com droga são detidos. No problem. Os acidentes na estrada aumentam.No problem. Os ordenados não sobem, o custo de vida dispara. No problem. Os reformados agonizam e os jovens desencantam-se. No problem. Temos o défice que temos e a inflação e o pib e a balança comercial e os orçamentos. No problem. O desemprego está na moda e os empregos são déjá vu. No problem. A educação não se educa, a saúde está doente, a segurança social não assegura. No problem. A economia é muito pouco económica e as finanças não financiam nada. No problem. Oh meu Deus, falta tão pouco para "isto" ser o paraíso!
AS NAUS CONTINUAM A ZARPAR




Sócrates vai à Índia. Adamastor onde estás tu?
DESENVOLVIMENTO HUMANO




Portugal está em 17º na tabela de poder de compra, literacia e esperança de vida. Europa a 25? Como é belo!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

DICIONÁRIO DE A a Z


CORRUPÇÃO

Acto ou efeito de corromper; devassidão; desmoralização.

(Grande Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo)


Ps. Palavra que devia de ser retirada dos nossos dicionários, já que neste país de brincar não existem corruptos, nem corrupção.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

DICIONÁRIO DE A a Z




BELO


Que tem forma agradável; que tem proporções harmoniosas; conjunto de qualidades que despertam um sentimento elevado e especial de prazer e admiração; que apraz ao coração e à inteligência como obra de arte.

(Grande Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo)

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

UMA SEMANA DE ARTE



Depois de uma ida ao CCB com os meus alunos de pintura da Universidade Sénior da Amadora, no dia 8 quinta-feira, voltei à noite para a inauguração da exposição "Caminhos excêntricos". No Sábado pelas 18 horas fui à inauguração de uma exposição de fotografia e pintura na Casa Roque Gameiro na Amadora. No Domingo, troquei o Centro Cultural de Belém pela Gulbenkian e fui ver no centro de exposições temporárias a exposição "Um Atlas de Acontecimentos", passando depois pelo centro de arte antiga onde conjuntamente com a exposição permanente se encontra uma outra dedicada aos "Gregos". Para rematar, pelas 16 horas fui ao Parque das nações onde se encontra a "Arte Lisboa". Um fim-de-semana diabólico, sem o meu pequeno almoço à beira rio, mas com uma ementa recheada de outros "manjares".

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

CAMINHOS EXCÊNTRICOS


Reataram-se no Centro Cultural de Belém as exposições temporárias, que se mantiveram encerradas enquanto se procediam às obras para instalação do Museu Colecção Berardo. Iniciou-se ontem este novo ciclo, com a exposição Caminhos Excêntricos e seguir-se-à dia 15 de Novembro a exposição "Um Teatro sem Teatro" co-produzida com o MACBA-Museu de Art Contemporani de Barcelona. Na inauguração de ontem, cuja visita é sempre limitada pela afluência de público ficou-me na retina três quadros de um jovem pintor checo de seu none Daniel Pitin. Óleos de grandes dimensões apresentam temas reais e figurativos que merecem para já uma outra ida ao CCB para uma observação mais cuidada. A exposição apresenta a arte contemporânia como reflexão actual dos processos de globalização na visão de 17 artista de seis países.
FEIOS, PORCOS E MAUS



Segundo os jornais deste quintal a que chamamos país, fomos galardoados com mais uma medalha de ouro. Estamos em primeiro lugar nesta europa a 27, no que diz respeito a falta de higiene. Já Vitorino Nemésio escrevia no seu livro "Mau Tempo no Canal" que os ingleses se referiam aos portugueses como sujeitos que ainda cuspiam no chão. Décadas se passaram e os portugueses continuam a cuspir para o ar e a assobiar para o lado. Este país não avançará enquanto a prioridade primeira não for a educação. Senão continuaremos a ser "Feios, Porcos e Maus".

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

DICIONÁRIO DE A a Z


ARTE


Conjunto de preceitos para bem dizer ou fazer qualquer coisa; artifício; habilidade; ardil; maldade.

(Grande Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo)


Ah grandes artistas...
AH GRANDES ARTISTAS




A exposição do Museu Colecção Berardo, patente no CCB, está dividida em seis módulos. Também a governação socialista está dentro destes parâmetros, senão vejamos:


No Museu: o poder da côr
no governo: a côr rosa

no Museu: figura reiventada
no governo: o ditador

no Museu: autonomia
no governo: o que mais se tem retirado aos portugueses

no Museu: minimalismos
no governo: os aumentos de ordenados e regalias

no Museu: surrealismo e mais além
no governo: os ministros e companhia

no Museu: pop e cª
no governo: a música que nos dão
O QUE É O SOCIALISMO?



...É a reclamação da justiça e da igualdade nas relações dos homens; dos homens que a natureza criou livres e iguais, e de que a organização social fez como que duas raças inimigas, uma que manda, goza e oprime, outra que obedece, trabalha e sofre: dum lado, senhores, aristocratas, capitalistas; do outro, escravos, servos, proletários...

Definição de Antero em 1871, e transcrita da Enciclopédia Internacional Focus


Onde é que eu já vi isto?

terça-feira, 6 de novembro de 2007

UM DIA DIFERENTE



Quando era miúdo adorava ir à Praia das Maçâs passar férias. Não era apenas aquele riacho que serpenteava pelas areias formando pequenas enseadas e desaguando depois no mar; nem o homem das bolas de Berlim, gritadas areal fora; nem sequer o pinhal que fronteava a casa das minhas tias, pleno de pinhões e camarinhas que faziam as nossas delícias. Era sobretudo o quarto do meu primo Zeca, recheado de surpresas, que ele, muito mais velho que eu, fazia saltar das gavetas. Eram recordações da meninice dele, jogos, brinquedos, bonecos de todas as cores e feitios, que ele me oferecia e eu delirava. Hoje, sou, não um coleccionador, mas um juntador de coisas pensando que um dia mais tarde, filhos ou netos, encontrem numa gaveta, numa caixa ou num canto qualquer, alguma coisa que os encante. Com as obras que tenho feito em casa, o espaço para as colecções não sobra, nem sequer para o amontoado de coisas que vou juntando. Assim, tudo tem sido transferido para o atelier de pintura, em caixas, em malas, em sacos. Por acaso hoje fui a um desses sacos procurar um cabide e encontrei uma lata que em tempos deve ter servido para acondicionar rebuçados e qual não foi o meu espanto quando descobri que estava cheia de legos. Peças de várias engenhocas, peças de um tempo que o João Pedro, meu filho,viveu quando criança. Como me ia encontrar com a Matilde, minha neta, resolvi levar a lata para lhe mostar. À noite, antes do jantar, despejei ao conteúdo da lata no chão e foi com alguma emoção que vi o João e a Matilde a a desbravar as peças e a tentar encaixá-las. Da cena, apenas duas notas quero realçar, a primeira da Matilde, que virando-se para o tio lhe pergunta «tio João ofereces-me os legos, está bem ?» e do João que virando-se para mim, pediu «passa-me aí essa peça, que se bem me lembro tem um perno partido» . Passaram-se mais de vinte anos, a peça continua partida, o nosso imaginário continua vivo, a geração Matilde agradece. As minhas caixas continuam no atelier, cheias de coisas velhas, que um dia os filhos e netos desbravarão.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

CORRUPÇÃO




Estreou há dias o filme "Corrupção". Onde é que eu já vi este "filme"? Foi baseado no livro de Carolina Salgado, mas poderia ser baseado em qualquer "outra novela" de que Portugal é fértil. A prepósito recomendo a leitura do livro "Golpe de Estádio" que já tem uns anitos, mas que a Editora Terramar resolveu, e bem, fazer nova edição. É uma história fícticia (?!?!) com nomes fícticios, mas que são bem reais. Dez vezes melhor que "corrupção", vale a pena ler. Para completar este leque de leituras sobre o futebol e suas "estórias" será bom estar atento ao livro "Futebol traído e humilhado" da autoria do mestre do jornalismo desportivo Alfredo Farinha. Hoje não há mais "Bíblias de futebol", antes sim, existem "manuais de terrorismo e subversão". No país dos três efes ( Fado, Futebol e Fátima) eu posso acrescentar mais um, que obviamente, e por pudor, não escrevo, mas que deixo à vossa imaginação.

domingo, 4 de novembro de 2007

O EL CORTE INGLÉS, OS LIVROS E OS CURSOS



O livro "Éramos todos bons rapazes" encontra-se à venda, entre outros locais, no El Corte Inglés. Todos os meus amigos podem e devem visitar a livraria do piso 0 do edifício de S.Sebastião e para além de comprar o livro, podem inscrever-se nos cursos de âmbito cultural que El Corte Inglés promove habitualmente. Os cursos são grátis, a simpatia muita e a cultura não faz mal a ninguém. A Susana Santos, responsável pelo âmbito cultural, agradece.

sábado, 3 de novembro de 2007

A GUERRA

Os nossos silêncios não podem ficar escondidos neste lençol de tempo que cobriu uma geração. Somos muitos para tão pouca mostra. Aqui fica o meu testemunho da guerra do Batalhão de Artilharia 1924, que percorreu nas terras de Angola, 27 meses de solidão e isolamento, de alegrias e temores.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

MENTES BRILHANTES



Neste país de faz de conta mais uma ideia genial, não sei se de uma ou mais mentes brilhantes. Agora, os condutores terão que ter estampado na viatura, um autocolante, avisando os demais, da perigosidade da sua condução. Se a moda pega, e à boa imagem hitleriana, usaremos na lapela um autocolante, tipo estrela de david, catalogando-nos pelos "pecados" que cometemos. Assim, os bêbados usarão uma targeta roxa, os gays um autocolante côr de rosa, os pedófilos um autocolante azul bébé, e assim sucessivamente para os depravados, os caloteiros, as prostitutas e toda uma gama de otários, salafrários e vigários, gastando toda a paleta de cores da Robbialac. Apenas uma côr deve ficar vaga: a preta. Essa fica reservada para os corruptos e para os políticos da nossa praça.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

terça-feira, 30 de outubro de 2007

REVISITAR A GUERRA




A guerra está na "moda", passou hoje na RTP o 3º episódio da série de Joaquim Furtado sobre a "nossa guerra". Não quero por ora fazer comentários, espero portanto pelo fim para dar a minha opinião. No entanto, para já, despertou em mim os tempos passados em Angola, e por isso fui vasculhar os meus escritos e não fui mais longe, para as fotografias, porque as tenho no atelier, algures numa caixa de cartão. Lá irei. Por agora recordo-vos um pequeno poema datado de 1968.



DANÇA


Dancei tango, bolero
valsa, twist
rock and roll
e sempre, sempre
na corda bamba!
A GUERRA



A guerra está outra vez no topo das nossas actualidades, não a guerra, pão nosso de cada dia nesse além-mar tão distante e tão perto afinal, mas a "nossa guerra", colonial, do ultramar ou como quizerem chamar. A tantos anos de distância não se vislumbra um bisturi que consiga dissecar os nossos silêncios. Fomos tantos os navegadores, somos tão poucos os que erguem, neste mar de novos adamastores, um livro, uma história, um poema. Também fui navegador, zarpei do Tejo até Angola e voltei. E sou dos que erguem, neste mar esquecido, as palavras escritas no livro"Éramos Todos Bons Rapazes" da Editora Indícios de Oiro, como testemunho duma geração. Deixo-vos um pequeno extracto duma história do livro. Eu fui à guerra e voltei mas...


..."eram quatro os meninos que da fonte nova bebiam. Eram quatro os meninos que noutras paragens desembarcaram. Eram quatro os meninos que queriam voltar à fonte nova, para beber aquela água outra vez. À fonte nova, vindos do mar, apenas chegaram três."
SEMPRE A CASA PIA



Com a devida vénia transcrevo hoje parte de um artigo publicado no Correio da Manhã no dia 29 de Outubro de 2007, pelo jornalista António Ribeiro Ferreira: "Desde que o escândalo rebentou em finais de 2002, uma grande parte da classe política, com o PS à cabeça, e altas figuras do Estado, fizeram tudo o que era possível e impossível para abafar o caso e evitar que os pedófilos fossem condenados. Substituiram o Procurador Sotto Moura por Pinto Monteiro, destruiram a brigada que investigou os crimes sexuais, afastaram Catalina Pestana e alteraram o Código Penal e o Código de Processo Penal. A ida de Pinto Monteiro ao parlamento é mais um episódio sinistro do escândalo nacional chamado Casa Pia."

A casa pia, os meninos piam, mas anda aí uma mãozinha a cortar-lhes o pio.

domingo, 28 de outubro de 2007

HOJE HÁ BOLA




Hoje foi uma tarde-noite fora da rotina a que me habituei nestes últimos anos.Fui ao futebol! Curiosamente uma rotina obrigatória há dez anos atrás. Como o mundo é redondo e a bola também. Também é com quem diz, porque para alguns a bola é mais parecida com uma batata ou com um calhau. E nisto também entra a lógica, não a da batata, mas a outra, que logicamente não tem lógica nenhuma. E porquê? Porque um desporto de alta competição, numa indústria modernizada, com treinadores e jogadores altamente remunerados, com estádios último grito da moda, com um público extraordinariamente sabedor das leis do jogo e vibrante no apoio aos seus clubes, com dirigentes pagos a peso de ouro, logicamente deveríamos ter um espectáculo grandioso quer no aspecto técnico e táctico, quer no comportamento cívico e de fair play de todos os intervenientes. Mas não. Os estádios estão vazios, o futebol praticado é da treta, os jogadores são manhosos, os dirigentes estão para se servirem, não para servir, o fair play varre-se para debaixo do tapete e os árbitros apitam tão douradamente que fazem inveja aos entalhadores. Hoje fui ao futebol, vou digerir por agora este Benfica - Maritimo e amanhã tecerei alguns comentários ao que me foi dado ver.

sábado, 27 de outubro de 2007

CASA MUSEU ANASTÁCIO GONÇALVES



Não fiz este sábado o habitual pequeno almoço no CCB e consequentemente a abordagem ao rio e à arte instalada. Fui sim, na sequência do curso de história de arte do El Corte Inglés, visitar a casa museu de Anastácio Gonçalves, ao Saldanha, perto da Maternidade Alfredo da Costa. As visitas guiadas são um complemento interessante mas normalmente ouve-se muito e vê-se pouco. Assim terei que lá voltar outra vez para, calmamente, poder disfrutar da maior colecção de pintores naturalistas portugueses do século dezanove. É um museu que vale a pena visitar, a começar pelo edifício, casa que José Malhoa encomendou ao arquitecto Norte Júnior, e que recebeu o prémio Valmor em 1905. Posteriormente a casa foi comprada pelo Dr.Anastácio Gonçalves e que foi legada ao Estado em testamento em 1964. O acervo integra cerca de 2000 obras de arte, desde a pintura a porcelanas da China, até mobiliário e ourivesarias. Mais uma vez esta visita teve a cortesia do El Corte Inglés. A não perder.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

EL CORTE INGLÉS



Outra vez o El Corte Inglés. Acabou o curso de história de arte com um jantar no restaurante do 7º andar. Mais uma vez gentileza da Susana Santos, incansável no bem tratar dos participantes. Dez aulas apenas e uma sensação de saber a pouco. O que era previsto ser do renascimento até hoje, ficou reduzido a dois ou três pintores, mas valeu a pena, ainda que se perdesse muito tempo na discussão do acessório ou a tentar adivinhar o sexo dos anjos. Ficou a pergunta no ar: e o resto Susana? E ela prometeu que o resto virá, e ela cumpre! Ficamos pois à espera de mais história da arte e até lá ficamos com a poesia e o José Fanha , outra figura incontornável e de uma simpatia impar. O El Corte Inglés está com a cultura e nós agradecemos. Não é só a participação gratuita nos cursos, nem o coffee break que nos oferecem, mas também e sobretudo a simpatia da Susana Santos e da sua equipa. Aqui fica este apelo a todos os bloguistas que me lêem: todos ao El Corte Inglés, rapidamente e em força.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A GUERRA


Com trinta anos de distância ainda são poucas as vozes que falam da guerra. Passados trinta anos a guerra ainda está presente em muitos de nós e na maioria dos casos pela pior lembrança. Em trinta anos, não foram os "democratas" de hoje capazes de resolver a questão colonial nem tão pouco tratar com dignidade aqueles que serviram a Pátria. Os que lá ficaram , foram entregues ao destino, os que regressaram são ignorados e tratados como se inimigos da nação se tratassem. Eu fui à guerra e voltei, tenho dela boas e más recordações. Parte dessa experiência está relatada no meu livro "Éramos todos bons rapazes" da Editora Indícios de Oiro. Há ainda muito que discutir sobre as campanhas de Àfrica, há muito que escrever, há muito que relatar. Dei um pequeno contributo mostrando uma outra visão da guerra e espero que outros o façam, não quero no entanto que me tratem como se fora um soldado de Salazar.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A FRASE DO DIA




Somos um país de histórias mal contadas!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

PONTO DE MIRA



Nunca gostei muito de pintos, gosto mais de frangas, mas justiça das justiças cada pinto cada melro (ou cada caldeirada)...
AS MINHAS OBRAS DE PINTURA



Finalmente consegui colocar alguns quadros meus no blogue. Até conseguir um site próprio (que está em execução) vou tentar transferir mais algumas pinturas para este meu sitio de conversa. Espero que seja do agrado geral, ficando por isso à espera de comentários ou pedidos de esclarecimento.

domingo, 21 de outubro de 2007

UMA MANHÃ EM LISBOA




Domingo, 21 de outubro de 2007. O tempo já não é o que era, está uma manhã de sol. Percorro o IC 19, volto para os cabos de Ávila, entro para Lisboa pelo alto do Restelo, ladeando Monsanto e Caselas, descendo a larga avenida até ao CCB. Sem trânsito, sem stress, arrumo o carro e caminho paralelo ao Mosteiro dos Jerónimos. Do outro lado o Centro Cultural de Belém e o monumento aos descobrimentos. Entre margens, um rio que desliza suavemente para o mar, canta os heróis navegadores. As Tágides, porventura sentadas nas fontes que povoam os jardins, contemplam o movimento de gentes que percorrem as ruas, na ânsia de beber o néctar de cultura que jorra do Mosteiro dos Jerónimos, do Centro Cultural de Belém, do Museu de Marinha, do Museu de Arqueologia, do Museu dos Coches. Mais adiante junto ao Palácio de Belém, a GNR faz o render da guarda. Tocam as fanfarras , desfilam os guardas e os cavalos, e o povo pára para ver a banda passar. Páro num quiosque e compro um jornal, entro nos pastéis de Belém, tomo um café e um doce, dou uma vista de olhos pelo periódico e vou andando até ao rio. Percorro o espelho de água, sinto o cheiro da maresia, vou pela relva onde os putos em longas correrias, desatinam numa bola. A banda da Guarda Nacional Républicana toca agora no relvado, os cavaleiros evoluem no recinto, desenhando espaços ao som da fanfarra. As esplanadas convidam ao espectáculo e à bebida, o sol continua nesta manhã de Outubro a querer ficar, juntando-se à festa. Retomo o meu caminho até ao CCB, são horas de almoço, a esplanada do terraço da cafetaria é um pretexto para a refeição, o sol, o rio e a paisagem são o complemento duma breve pausa. Lisboa tem sempre estas manhãs, as gentes é que nem sempre se atrevem as disfrutar da magia deste espaço.

sábado, 20 de outubro de 2007

O APITO ENCALHADO EM TALHA DOURADA
OU A JUSTIÇA NESTE JARDIM DOURADO


Podia ser o apinto dourado ou o apito da costa, mas não, é o branqueamento de neve, branco e leve, branco e puro, que apita leve levemente como quem chama assim: não é penalty, não é golo! mas os árbitros senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim? Afinal não é nada, as escutas são apenas uma pequena desconfiança e o Porto pula e avança como bola colorida por entre as mãos duma criança...
A JUSTIÇA NUM PAÍS DE BRINCAR



A casa pia, mas a caravana passa.

domingo, 14 de outubro de 2007

FEIOS, PORCOS E MAUS


Título do jornal Record depois da vitória no Azerbaijão: Scolari não é preciso!
Ah estes ódios de estimação de meia dúzia de jornaleiros.
BREVE RESPOSTA A FERNANDO PESSOA



O poeta não é um fingidor
porque a dor que deveras sente
não é fingimento é a dor
que ele vive completamente

Mas o político que fala e escreve
e trata a dor com desdém
finge que essa dor ele já teve
não é só o povo que a tem

E assim nas calhas da roda
gira a entreter a razão
finge-se democrata da moda
e que se lixe o zé povão.
A PERGUNTA



Porque não abrir um concurso internacional de um outsorcing para governar esta espécie de país?
NÓS OS REFORMADOS




Não sei porquê acho que nós, os velhos, os cotas, os reformados (ah malandros) estamos a mais. Acho não, tenho a certeza, que somos nós que descontrolamos a balança comercial, desequilibramos o défice, enfraquecemos as exportações, levamos para a banca rôta a segurança social. Sem nós este país seria um oásis. Não seria necessária polícia, porque a violência e a gatunagem deixavam de existir; a corrupção acabava porque os corruptos já eram; as salas de chuto não seriam necessárias porque haveria casas vagas com fartura; as seringas desses cotas diabéticos já poderiam ser distribuídas a essa juventude estóica; os políticos já não tinham problemas com os orçamentos; os brasileiros, os pretos, os romenos e todos os indígenas desta globalização triunfante já poderiam dormir descansados, pois já não seriam assaltados nas ruas e nos combóios das nossa cidades. E para que todos possam viver na paz do Senhor, oh nossos bem amados governantes, não nos aumentem só o IRS, dêem-nos uma injecçãozinha atraz da orelha...
EL CORTE INGLÉS




Não sei quantos anos tem o Corte Inglés em Lisboa. Dois ou três, por aí, não tenho bem a certeza. Sei apenas que até há bem pouco tempo tinha ido lá duas vezes e apenas para conhecer o ambiente. Da memória ficou-me apenas aquele descer em caracol até ao parque de estacionamento numa estreita e angustiante descida. Até que, tendo conhecimento que o Corte Inglés estava a realizar alguns cursos, me inscrevi no curso de escrita criativa. Depois tudo mudou, durante quinze dias frequentei a sala do âmbito cultural, conheci alguns escritores, tive como colegas gente de várias profissões, fiz novos conhecimentos, criei amizade com alguns, alarguei o meu blogue a outras personagens. Tornei-me assíduo, comprador até, passei a frequentar a cafetaria e o restaurante e a ver Lisboa do alto do sétimo andar. Acabei o curso, fui de férias e voltei em Setembro para outros prazeres que são os cursos de história de arte e de poesia. Outros cursos estão a caminho, o de História de Portugal e o de Ciência, porém não sei se serei ou não seleccionado, ainda assim divulgarei aos meus amigos e aos meus alunos, esta benesse cultural que o Corte Inglés oferece aos seus clientes. Um obrigado ao El Corte Inglés e em especial à Susana Santos responsável pelo âmbito cultural que tudo tem feito para que estes cursos sejam um sucesso. E são! Bem Hajam.